Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

sábado, 12 de dezembro de 2020

Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 13, versículos de 3 a 13

 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

                                                                                                                        1 Coríntios 13:13



E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem...

1 Coríntios 13:3-13





quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Um grande caramujo terrestre, gastrópode do gênero megalobulimus

 Determinados moluscos são capazes de secretar uma concha espiralada composta de carbonato de cálcio (natureza calcária, semelhante aos ossos), com tamanho variando entre 7 e 15 cm. Alguns deles pertencem ao gênero megalobulimus. Eles são herbívoros alimentando-se de folhas e raízes vegetais em decomposição. Existem algumas espécies carnívoras que podem se alimentar de minhocas, larvas.




A concha de um caracol. Imagem: Cláudio Gontijo


Possuem hábitos noturnos, onde se movimentam mais, e buscam locais úmidos. Enterram-se nestes locais, geralmente junto à base de vegetais. Durante o dia procuram afastar-se da exposição à luz do sol, escondendo-se desta luminosidade. Aparecem com mais frequência em períodos chuvosos.

Estes moluscos (animais de corpo mole) pertencem à classe dos gastrópodes (pés próximos à região visceral). Possuem três partes principais:

a- Massa visceral - onde estão a maior parte dos seus órgãos como: estômago, intestino, pulmão.

b- Pés - estrutura muscular ligada ao manto utilizada para a locomoção.

c- Manto - localizada abaixo da massa visceral, é uma estrutura que se mostra em grande parte no meio externo à concha. É responsável por secretar esta concha  abrigando poros genitais e órgãos do aparelho reprodutor.  


 

Reprodução

A maioria dos caramujos são hermafroditas, ou seja, possuem os dois órgãos reprodutores localizados no manto. A fecundação geralmente ocorre de forma cruzada, o órgão sexual de um indivíduo fecunda o do outro e vice-versa. O acasalamento pode durar em média 10 horas.

Após a cópula cavam a superfície do solo e depositam cerca de 20 ovos, que eclodem em duas semanas. Existem determinadas espécies com alta frequência de reprodução, capazes de depositar em média  200 a 400 ovos.


Rádula

Ocorre na boca uma estrutura denominada rádula. Esta língua rudimentar, com minúsculas protuberâncias, funcionam como dentes e ralam, cortam, os alimentos a serem ingeridos.








O manto abrigando a região cefálica com tentáculos (olhos nas extremidades) e que também possuem boa capacidade sensorial.  A maioria destas espécies possuem visão limitada. Imagens: Cláudio Gontijo



Os pés e o manto são capazes de secretar uma substância mucosa que facilita a locomoção. Em situações adversas como a aproximação de um predador, o manto é recolhido e uma membrana pode fechar a abertura da concha. Muitas espécies são capazes de produzir toxinas que afugentam estes predadores.






Os caramujos podem viver de 12 a 14 nos. Existem mais de 90.000 espécies destes moluscos, incluindo os que vivem também no ambiente aquático.

Muitos destes caramujos terrestres estão em risco de extinção em função da destruição do seu habitat.
Originalmente na vegetação da mata atlântica e nas matas ciliares.



quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Os Vagalumes e a bioluminescência; luz que não produz calor

 Nas noites de verão, geralmente no início da estação chuvosa, é possível avistar lampejos luminosos que se movimentam na escuridão. Estas luzes fazem parte, na verdade, de um ritual de acasalamento dos vagalumes. Neste ritual os vagalumes produzem luminosidade por meio de reações químicas que ocorrem no seu corpo. 

O fenômeno é chamado de bioluminescência, onde uma substância (luciferina) sofre oxidações gerando a luminosidade que se compõe de 95% de luz e apenas 5% de calor. Ou seja, a luz que estes insetos produzem não gera calor, é fria. É possível verificar isso quando temos a oportunidade de segurá-los. 

Os vagalumes podem controlar perfeitamente a emissão desta luminosidade. Eles emitem maior ou menor quantidade de luz, alteram a sua frequência e ocasião, estas variações são formas de comunicação durante este ritual para a reprodução.




Existem no mundo cerca de 2000 espécies conhecidas. No Brasil mais de 400 espécies. Estes insetos são da ordem coleóptera (a mesma dos besouros e joaninhas). Os coleópteros possuem um par de asas mais rígidas abrigando, logo abaixo, outro par mais flexível. 

Os machos produzem a luz em um primeiro momento, atraindo a fêmea para o ritual de acasalamento. A fêmea também emite a luminosidade e voa para efetuar a cópula. Após o acasalamento produzirá ovos que irão eclodir e gerar as larvas. Estas larvas e a forma adulta vivem em média 3 anos. A maior parte deste tempo na forma larvária. Após a sua metamorfose atingem a forma  adulta viverão mais 3 a 4 semanas. A larva vive em locais mais úmidos do solo (debaixo de madeira em decomposição ou em pequenos túneis) e se alimenta de substâncias vegetais encontradas nas raízes e pequenos caules, moluscos, insetos menores. Ela entrará em desenvolvimento, terminando-o na forma adulta e acasalando. O ciclo se fecha.





O número destes insetos vem diminuindo sensivelmente. O corte das matas, da vegetação do cerrado (por exemplo), acaba por destruir o habitat destes insetos. Os agrotóxicos também contribuem para a sua destruição. 

Além destes fatores, o excesso de luminosidade artificial (iluminação noturna elétrica) ofusca os seus lampejos e interfere no acasalamento. A luz artificial torna difícil a comunicação entre machos e fêmeas, que passam a ter dificuldade de interpretar as variações luminosas. O acasalamento, desta forma, diminui.






terça-feira, 22 de setembro de 2020

Ecdise





Penso que a mudança é pela vida, para que traga mais vida.

Penso que tudo muda, que não há o que não se altere.

Penso que a mudança vem e todas as coisas se renovam.

Penso até que há urgência nisso.

Penso que a vida sempre pede mais vida.










Imagens: Cláudio Gontijo

sábado, 22 de agosto de 2020

Histórias do Sertão 11: A conversão do Juca Ramiro

 





Aconteceu que numa madrugada de tempo fresco Juca Ramiro acordou sem forças para movimentar suas pernas, para movimentar qualquer parte do corpo já carcomido, envelhecido. A dor que parecia cortar seu peito, não pôde ser guardada numa das seringas. Muitas delas foram esvaziadas e o temido Juca, das terras e das muitas cabeças de gado, dos muitos agregados, das generosas gorjetas para o que quer que comprasse, foi levado e acomodado entre os inúmeros aparelhos de uma sala. Nem seu semblante carrancudo, sua voz impaciente, pode evitar que permanecesse ali por vários dias. Ataque do coração. Foi entregue em papel bem escrito aos seus diversos filhos. 

Como o Juca era viúvo já há alguns anos, restou-lhe a Maria do Socorro. Mulher miúda, de olhos entristecidos, vivos. Maria caminhava rápido fazendo ranger as tábuas do velho casarão. Apressava em providenciar os desejos azedos daquele homem acostumado aos horários sem qualquer atraso. O que aquela mulher servil  carregava em qualquer tempo era um livro, grosso, de páginas remexidas, amareladas. As letras da capa dura indicavam que eram parágrafos de fé. Marcada em vários pontos, tinha palavras sublinhadas, circuladas, anotadas no rodapé. Ela ainda tinha mesmo alívio para suas dores nos cultos da pequena igreja, no salão pintado em cores fortes, onde os sermões eram quase que gritados por um homem que dizia ser abençoado, chamado por Deus para conduzir aquelas poucas almas que cantavam alto, louvando, batendo palmas. 

Por muitos dias Maria se acostumou a deixar o seu livro aberto já bem perto do Juca. O homem ia lendo a escrita confusa, não sabia o que de fato dizia. Mas encontrava curioso aquelas páginas ao alcance das mãos trêmulas. Deu então para resmungar com aquela que o servia, sem afastar de todo a curiosidade. Ralhava com a criada, maldizia, em poucas palavras, para perguntar só o que dizia de fato aquela escrita. E ia atiçando a curiosidade. Com os dias já pegava-se de joelhos, de olhos úmidos, de mãos atadas, em preces sem rumo. 

O Juca envelhecia a cada dia, sem querer medir os pastos, sem mexer com os maços de notas guardados no cofre, junto à carabina, num canto do quarto. Juca queria mesmo era chamar a Maria do Socorro, a Maria da fé, que ia agradando, parecendo-lhe mais alinhada, até perfumada. O Juca acabou mesmo por se engraçar por aquela que o servia. Passou a reservar lhe uma conversa mais baixa. Já não lhe era de todo estranho esperar a passagem do domingo à espera do seu livro sagrado, que vinha logo no começo da semana, junto aos afazeres daquela criada. Já apreciada. Até desejada.

Na sua solidão, naquele árido de verde e companhia, Maria pensou, orou, clamou, glorificou. Até que ia se resolvendo pelos olhares do velho moribundo. Até que foi remexendo as idéias, assentando seus pálidos sentidos. E foi assim caminhando para o casarão. Já tinha seu quartinho reservado. Seus ganhos mais ajeitados. E os cultos ficaram quase que nem sempre lembrados. 

O Juca resolveu-se de todo e chamou Maria para companheira. Não tinha mais esposa, nem filhos que viessem àquela casa, nem nenhum conhecido que se arriscasse a contar, escandalizado, aquele romance. Maria afastou-se assustada, não desejava união sem regra, sem bençãos, sem o consentimento das orações. O velho não aceitava o casamento. Maria não queria aquela vida. Juntou então seus pertences, apressou o passo e foi se embora.

Juca Ramiro caiu acabrunhado. Mal se achegava à varanda. Já nem sabiam das suas ordens. Agarrou-se ainda mais ao livro. Lia e se engasgava, amuava ainda mais. Queria mesmo os ensinamentos da Maria. Queria seus caldos, seus cuidados, seu silêncio. Queria Maria de volta. 

Enviou a ela um bilhete onde se acertava com o casamento. Acordou-se com o vigário, achando-se agora de todo salvo e iluminado. Continuaria com os donativos, mas casaria no acanhado templo dos irmãos da sua Maria. E assim se deu o ocorrido. 

Diante da velhice e do tempo, nunca houve, de fato, completa união. Conta-se que ele se converteu de todo. Vendeu o gado, as terras. Vieram, afinal, todos os seus; raivosos. Quiseram internar o João. Mas não houve um laudo sequer, nenhum achado de loucura. 

Em teimosia e fervor, esqueceu a avareza, doou o que apurou para a caridade. Comprou casa pequena na cidade. Lá terminaria seus dias junto às leituras, quitandas, e, agora, pregações, de sua Maria do Socorro.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Oração para a noite







Senhor, se queres, podes purificar-me!




Rezemos cinco Pai Nossos, para cada uma das Cinco Santas Chagas de Cristo.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Histórias do sertão 10: o João da Cota






O som era de palmas mal batidas, sentidas, palmas de mãos fracas e tortas. Palmas abafadas pelo grosso dos calos. Nem todos ouviam. Mas ele permanecia diante da casa, em pé, de fora das cercas de arame farpado. Outras vezes apoiado em alguma estaca,  no passeio de chão duro, um barranco fora do nível. Corpo encurvado. Joelhos que pareciam estar se dobrando com o tempo. A calças eram largas, sujas, amarrotadas, pisadas, e tinham sempre a barra gasta, arrastada pelo caminhar. Botinas de bico quase que de todo aberto. O cordão barbante apertava a cintura.

Alguém que o avistasse à porta, vinha logo. Muitos o temiam. Mas muitos sabiam. Sabiam que buscava sempre, e só, o café. Mas diziam que os seus olhos carregavam o mal olhado. Diziam que se fosse certeiro sobre um pequeno que fosse, amaldiçoava. Adoentava. Apertava o crescimento. Desfalecia.

Mas nunca foi de todo esquecido. Era até mesmo querido. Pelos anos a fio. Pelas rezas que afirmavam sair como um cochicho de sua boca de poucos dentes. Rezas no árido da vida trabalhosa, penosa. Curava muitos dos males curtidos sob o sol daquela terra quente e seca.

Juravam que já havia vivido mais de 100 anos, na pele negra, nos olhos amarelados, velados, fundos, no semblante de pouca fala. Uma figura sem igual no sertão do Velhas. Punha o medo, punha um certo silêncio, um restolho de sabedoria, e saia de novo sem rumo. Gostava mesmo era de andar pelas estradas de terra e poeira. Era visto em povoados diversos. Não cabiam as contas de quanto era capaz de perambular.

Houve mesmo um dia em que assentou-se no tronco seco, largado ali há muitos anos. Nesta ocasião negaram-lhe a porta aberta. E a sua parada, dada como certa, terminou por ali mesmo. A mulher, desconfiada, amuada, acabou por ficar debaixo do tingui, ao fundo do casebre. Embalava o choro de um menino que não desejava o peito e nem a quietude da tarde. Era febre. O mal ficava, não se estancava.

Continuava ali o João da Cota. Olhava a estrada sem viva alma quando ouviu os gritos daquela por demais aflita. Ajeitou-se com dificuldade, firmou as pernas e seguiu até a casa. Deu a volta. Resmungou e pediu a criança. A mãe recuou. Ele puxou e a deitou nos braços. Olhou, não se sabe se ouviu ao certo. Mas conta-se que o pequeno calou e, à sombra da árvore, sorriu em alívio, um riso de vida. Diante de toda aquela lida.

Foi então  que lhe foi tomado às pressas, em ríspido gesto, aquele inocente. O  João não resistiu. Agora tombava. Escapou do cajado em que se apoiava, um cabo velho de enxada, e caiu. Muitas vezes contido, agora destruído. Seu tempo acabou.

O corpo foi velado ali mesmo, no lugarejo. Na acanhada capela, diante do peso da notícia, ninguém se atreveu a entrar. Nem a rezar. Algum sinal da cruz e a fumaça das lamparinas. Permaneceu lá mesmo, inerte, noite a dentro. Até que se resolveu pelo enterro. Naquela escuridão. Sem mais demora. Já fora de hora. Sem qualquer promessa.

Aquele menino cresceu. Virou homem feito. Deixou a família. Não parava em nenhum lugar. Diziam ter herdado a sina do João. Falava-se até mesmo que podia escutar as palmas, as almas. Eram noites de vento forte. Noites enluaradas, na beira das estradas. 


domingo, 17 de maio de 2020

A doutora e os respiradores










Uma médica deu uma sugestão. Era endereçada àqueles que pediam a reabertura do comércio durante um grande surto.  Eles leram a opinião da médica em aparelhos sofisticados. Outros viram no noticiário em grandes salas.

Colocariam os funcionários de suas empresas na linha de frente; nos balcões, nas ante-salas, entre as mesas, dariam continuidade aos negócios. A doença havia se disseminado mas os empregados se contaminariam por eles. Caso algum vírus violasse as suas residencias havia a possibilidade de encontrarem respiradores nos hospitais cobertos pelos abrangentes planos de saúde.

Quando a doutora sugeriu que estes bons empreendedores, que desejavam desbloquear todo o comércio, assinassem um termo de compromisso abrindo mão dos tais respiradores, eles nada disseram. "Que dispensassem, então, os respiradores". Foi a sugestão da médica. "Médica de lugarejos sem mapa", disseram eles.

Aconteceu que estes homens de negócios foram até os diretores de hospitais, até os seus médicos particulares. Talvez tenham determinado a eles que lhes reservassem leitos. Esta reserva seria feita a partir de contrapartida compensadora.

Moradores de um aglomerado também viram a notícia que falava daquela jovem doutora. Viram no noticiário, na hora do almoço, diante da TV. Ainda que estivessem pagando as prestações daquele novíssimo aparelho, ainda que tivessem que responder ao chamado urgente do seu gerente, guardaram as palavras daquela doutora. Iriam reproduzi-las nas cozinhas dos restaurantes, nos grandes canteiros de obras, nos corredores de prateleiras coloridas. Mas muitos não tiveram como realizar tal desejo. Foram dispensados. Os que ficaram também tiveram dificuldades. Alguns dos colegas confidentes estavam isolados, outros permaneciam em hospitais lotados, outros já tinham partido.

Agregados de uma extensa fazenda também se depararam com a notícia. Comentaram com seus encarregados no refeitório. Quase se negaram  a receber os caminhões de medicamentos veterinários. Mas acabaram por concluir que aquela doença estava longe dali. Decidiram permanecer onde estavam, em alojamentos, com o seu já escasso salário garantido no final do mês.

Assim a ideia daquela doutora, que diziam ser de esquerda, foi se desbotando até desaparecer por completo. Dissolveu-se nas cores das bandeiras de passeatas. Bandeiras das janelas de carros  que a médica não poderia comprar.  Mesmo com todos os seus cursos, estágios, economias. 

A vida e a lida teriam continuado se o planejado tivesse acontecido. Os protestos até que funcionaram. Tudo foi reaberto. Mas faltaram os tão guardados respiradores. Muitos daqueles endinheirados acabaram por vir ao mesmo tempo para seus leitos especiais nos hospitais e os aparelhos não tinham como respirar para todos. Mesmo com todas as máscaras, luvas, antissépticos. Mesmo com todo o estoque de alimento que havia em seus armários. Mesmo com todos os entregadores de encomendas que vinham até a sua porta, quase todos adoeceram ao mesmo tempo.

O mercado parecia ter adoecido também. Os investimentos tinham sido contaminados. A moeda escasseou. Correram então para ir ao encontro de todos os poderosos eleitos, infectologistas, matemáticos.  Não havia solução que abastecesse de novo os cofres.

Aqueles que ainda podiam pagar, chegaram a comprar, encomendar, cultos, videntes, drogas promissoras. Falsificaram notícias. Mas os que haviam se salvado já não podiam visitar seus pais, seus filhos, seus parceiros de negócios.

Então chegou o dia em que todos já podiam opinar. Agora os microfones estavam mais ávidos. E muitos puderam ouvir ou tiveram que ouvir. Vieram os operários da linha de frente e se juntaram aos executivos. Choraram, enfim, juntos. Permaneceram assim à espera do antídoto que dispensasse os respiradores.

Um dia, quando tudo já havia sido gasto, a vacina chegou. Muitos se curaram. Muitos se cumprimentaram. Muitos se indignaram. Mas já não havia tantos bancos, tantas indústrias, tanto dinheiro. Havia mesmo, agora, ruas lotadas. E todos caminharam ao mesmo tempo, todos iguais, com as mesmas pernas. Não havia mais ricos e nem pobres.

Mas e a médica? Onde estava agora? Disseram que havia se contaminado em um hospital de campanha. Curou-se. Propuseram-lhe uma candidatura política. Não se sabe ao certo o seu paradeiro.









quinta-feira, 14 de maio de 2020

Aves: animais homeotérmicos, penas

A evolução animal determinou um certo grau de parentesco entre répteis e aves. As duras escamas e placas ósseas de um dinossauro podem ter se transformado, ao longo de milhões de anos, em leves e resistentes penas como cobertura para a pele. Um passo à frente que deu às aves a capacidade de se locomoverem por longas distâncias, vencendo as más condições de vida de uma determinada região ao migrarem para outra mais favorável. Aqueles pesados animais pré-históricos foram eliminados em regiões inóspitas, as aves buscaram sobreviver em locais mais adequados. 

A Lavadeira-mascarada parece se contorcer, "arranjando" suas penas. Imagem: Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG

Como as aves voam ?
Alçar voo, planar levemente no ar, em uma dança efetuada a grandes alturas, é um sonho de muitos. Alguns fatores tornaram estes animais privilegiados.
1- Ossos pneumáticos e sacos aéreos.
Os ossos das aves possuem numerosas cavidades internas que os tornam mais leves. Essas cavidades comunicam-se em um complexo sistema respiratório, cujo ar pode ficar armazenado em "embalagens", denominadas sacos aéreos. Com este mecanismo o corpo de um pássaro torna-se menos denso, quase próximo de  flutuar durante o voo.

As cavidades dos ossos pneumáticos das aves. Imagem web


Os sacos aéreos recebem ar do sistema respiratório. Imagem web


2- Penas
Estas estruturas leves, compostas de inúmeros "fios" bem entrelaçados, presos a minúsculas armaduras córneas (parecidas com as placas protéicas formadoras dos chifres), irão compor as asas. Longas asas e batidas lentas para distâncias maiores, asas curtas e batidas muito rápidas para vôos menores e velozes.

3- Músculos peitorais
A estrutura muscular peitoral da maioria das aves é vigorosa e muito desenvolvida, podendo efetuar inúmeras contrações para um batimento contínuo das asas. Vejamos o impressionante exemplo do beija flor: este pequeno pássaro é capaz de bater as suas asas por cerca de 90 vezes em um segundo, para isso seu coração precisa "disparar" e  os batimentos cardíacos chegam a mais de 1200 vezes por minuto.

4- Metabolismo e fisiologia diferenciados.
Não há bexiga que acumule a urina nas aves. Pode se observar que as fezes saem sempre umedecidas, misturadas ao líquido que compõe a urina. O processo digestório é rápido e o alimento não permanece por muito tempo no organismo, assim o corpo fica ainda mais leve para o voo.

O pequeno Beija-flor-tesoura pronto para  um vôo veloz. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG



terça-feira, 14 de abril de 2020

Aedes aegypti, o mosquito do Egito

O mosquito é natural do Brasil?

O mosquito Aedes aegypti é originário do Egito. Existem várias espécies do gênero Aedes causadoras de doenças, geralmente espalhadas por regiões tropicais do planeta. O Aedes aegypti, mosquito egípcio, chegou até a África e, a partir deste continente, espalhou-se para as Américas trazido por colonizadores europeus. 






Porque o Aedes se reproduz em maior número no verão?

O aumento da temperatura terrestre favoreceu a multiplicação dos insetos de um modo geral (observe como pulgões, gafanhotos, aumentaram). Com o mosquito Aedes aegypti não foi diferente. No Brasil os verões chuvosos e quentes  formam o ambiente ideal para a reprodução desta espécie. Neste período o seu ciclo reprodutivo fica mais curto e apresenta maior velocidade. A melhor temperatura para a sua multiplicação ocorre em torno de 30 graus. Reproduções mais rápidas, mais mosquitos, mais contaminações. Temperaturas mais baixas tornam o ciclo 5 vezes mais lento.


Porque há necessidade de sangue?

Após o cruzamento entre o macho e a fêmea ocorre a fecundação.  A cópula pode ocorrer durante o voo ou em superfícies planas. A fêmea é capaz de sugar sangue antes da cópula, em menor escala, mas após a fecundação busca a hematofagia de forma voraz para que ocorra a maturação (formação) dos ovos no ovário e o seu desenvolvimento completo. O sangue possui nutrientes (proteínas específicas) que favorecem os ovos. Sem sangue não ocorre o seu desenvolvimento. A maturação dos ovos ocorre em 2 dias (48 horas).




Ciclo reprodutivo simplificado

Macho e fêmea alimentam-se de seiva vegetal (caules, frutos) e néctar (flores). Mas a fêmea precisa se alimentar de sangue para a produção dos ovos. Ela necessita de nutrientes presentes no sangue (proteínas específicas). A postura dos ovos já pode ocorrer 3 dias após a ingestão de sangue.





Os ovos desenvolvidos são depositados em locais próximos ao ambiente aquático, em recipientes contendo água parada, geralmente um pouco acima da linha d'água. Em contato com a água os ovos eclodem em 2 dias. Após eclodirem darão origem a larvas que passarão por 4 estágios ate chegarem a uma morfologia mais desenvolvida denominada pupa. A pupa então se transformará na forma do mosquito adulto. Detalhe: mosquitos mais adaptados aos ecossistemas já conseguem se reproduzir em volumes de água cada vez menores.




O ciclo completo partindo dos ovos dura em média 7 a 10 dias. Em função deste ciclo, as regiões com possíveis reservatórios de água parada devem ser vistoriadas semanalmente. Não é correto o fato de que o mosquito se reproduz apenas em água limpa, ele pode fazer seu ciclo reprodutivo em água com muitos resíduos. 



As larvas possuem grande mobilidade 


A forma adulta possui vida média de 6 semanas. Neste período a fêmea é capaz de produzir cerca de 150 a 300 ovos. A fêmea quando não encontra locais propícios para depositar seus ovos vai espalhando-os em locais adequados. Podem ser diversos pontos em um raio de até 1500 metros. Eles são resistentes e podem sobreviver cerca de 1 ano em condições adversas (seca prolongada, por exemplo). Os ovos já podem iniciar o seu desenvolvimento para a eclosão com menos de 40 minutos de submersão na água. 

Um mosquito portador do vírus pode infectar 1 pessoa para cada lote de ovos. No entanto, segundo estudos, pode picar infectando até 4 ou 5 pessoas. Durante a sua vida curta, 1 fêmea pode infectar até 300 pessoas. 



Aedes aegypti possui menos de 1 cm de tamanho. A presença de listas brancas e negras é característica em seu corpo


Não é tão simples observar a presença deste inseto

A morfologia externa do mosquito permite que ele se torne menos visível (camuflável) em ambientes com pouca luz: debaixo das pias, atrás de portas, debaixo das camas. Ele prefere ambientes sombreados que se localizem fora da luz solar direta. A sua picada pode ocorrer em qualquer horário do dia, no entanto é mais frequente no período da manhã e no final da tarde. Mas podem ocorrer picadas à noite. Outro fato interessante: o mosquito possui substâncias anestésicas e anticoagulantes em sua saliva. Muitas pessoas podem não perceber que estão sendo picadas.


Geralmente o mosquito não realiza voos tão altos

Os voos destes mosquitos costumam ser fracos. Por este motivo grande parte das picadas ocorrem em membros inferiores, pernas e pés. Estas regiões também possuem substâncias (secreções) que os atraem pelo odor.  



quinta-feira, 19 de março de 2020

Vírus: proteína e material genético

Doenças Virais

Um resfriado vai manifestando os seus sintomas: tosse, dores no corpo, coriza, febre. Em algumas horas virá a sensação de cansaço e mal estar. Seres de tamanho reduzido (submicroscópicos, ou seja, que não podem ser vistos por um microscópio comum) atacam as células e vão se replicando com muita rapidez. Por isto os sintomas aparecem de forma súbita.

Gripe, sarampo, hepatite, catapora, herpes, raiva, varíola, dengue, febre amarela, rubéola, poliomelite, meningite viral, AIDS são doenças causadas por estes seres a que denominamos vírus. 

Em algumas situações não há vacinas que poderão combater as doenças virais. Outras formas de medicação não combatem o vírus. Neste caso somente o organismo será capaz de produzir substâncias para controlar a enfermidade, os anticorpos. Os anticorpos fazem parte do sistema imunológico. Eles marcam os corpos estranhos para que sejam destruídos pelo próprio organismo. Esta ação pode levar frequentemente alguns dias. Em outras situações existem medicamentos que atuam nos sintomas controlando a doença, como é o exemplo da AIDS e outras infecções virais. 

O Vírus sobrevive sozinho?

O vírus não possui estruturas, organelas, celulares. Eles necessitam das células para a sua sobrevivência e para a reprodução. Sem o organismo celular o vírus é uma partícula de pouca atividade, de pouca dinâmica. No entanto eles são capazes de permanecer por um determinado período fora do ambiente celular.

O vírus se adere à membrana que envolve a célula e é capaz de deixar seu material genético atravessá-la. Em outras situações eles invadem o interior celular. Este é um dos fatores que os tornam patogênicos, causando muitas doenças.


O vírus se conectando à parede celular de uma bactéria

Os desenhos abaixo são uma forma simplificada de representá-los: 

O vírus é basicamente uma cápsula de proteína que envolve  DNA ou RNA


Formato de alguns tipos de vírus

Como é o vírus. Como se reproduz.

O vírus é formado por uma membrana proteica, uma cápsula de proteína (capsídeo), que envolve o seu material genético: DNA ou RNA. Em uma das suas formas de reprodução este material genético penetra o meio intracelular e incorpora-se ao conjunto de genes (genoma) da célula atacada. A partir deste momento o vírus passa a controlar as atividades deste organismo, conduzindo-o para a produção de réplicas. Ele é capaz de promover uma rápida multiplicação no interior das células. Após a sua reprodução em larga escala ele pode matar as células que o serviram e, em grande número, aderir-se a outras. A  partir desta multiplicação muitos atacarão ao mesmo tempo. Assim é grande a sua velocidade de propagação.



Esquema simplificado de multiplicação viral em uma bactéria. 





Um pouco sobre o coronavírus 


Este tipo de vírus pode causar sintomas semelhantes a um resfriado ao penetrar uma célula do corpo humano. Os principais são:

         
            - Febre
            - Tosse                                                                                         
            - Dificuldade respiratória                           
            - Fadiga      


Os sintomas podem evoluir para doenças pulmonares mais sérias. O vírus preocupa pelo fato de se disseminar de forma veloz e, em alguns casos, por causar complicações respiratórias que não respondem aos medicamentos.


Segundo pesquisas realizadas ele parasita normalmente determinados animais silvestres. No organismo humano ele é capaz de se reproduzir rapidamente. Uma pessoa contaminada pode transmiti-lo com facilidade através da saliva: pela fala, por espirros, pelo simples toque. O vírus também pode se depositar em superfícies como: 

                   
                      - maçanetas                                        
                      - corrimãos                      
                      - grades                        
                      - balcões                 
                      - prateleiras                    
                      - mesas                        
                      - cadeiras.



Pessoas idosas (maiores de 60 anos) ou portadoras de outros tipos de doenças são as que estão no grupo de risco para maiores complicações. São exemplos destas comorbidades:

- cardiopatias                             
- hipertensão                       
- diabetes       
- doenças pulmonares (tuberculose, enfisema, bronquite, asma, câncer)                                     
- outras enfermidades que reduzem a capacidade do sistema imunológico

A maioria das pessoas contaminadas (cerca de 80%) deverá desenvolver formas mais brandas desta virose e não necessitarão de maiores cuidados hospitalares. Outros casos necessitarão de internação em hospitais. Uma porcentagem que situa-se aproximadamente entre 2 e 5% poderá vir a óbito.


Existem várias formas de se fazer a prevenção em relação à contaminação:


- Lavar as mãos várias vezes ao dia com água e sabão.
- Evitar aglomerações de pessoas.
- Não compartilhar objetos de uso pessoal.
- Cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir.
- Não utilizar relógios, bijuterias, joias, ao ter que sair às ruas.
- Retirar as roupas e calçados que tiveram contato com o meio externo em relação ao ambiente           doméstico e lavá-los com assepsia.


As redes sociais cresceram muito e continuam a crescer. Informações propagadas nestas redes sem qualquer conhecimento, falsas notícias, não auxiliam aos que necessitam de um mínimo de esclarecimento. Ao contrário, contribuem para aprofundar a apreensão. O estresse e a ansiedade gerados nesta realidade distorcida acabam por piorar diversos quadros de saúde. O compromisso e a responsabilidade ao transmitir informações são fundamentais. 


domingo, 8 de março de 2020

A Rosa-do-cerrado: sub-arbusto, flores na estação chuvosa

A vistosa Rosa-do-cerrado (Kielmeyera rubiflora) é um sub-arbusto, ou seja, não possui um único ramo mas vários deles saem do solo. Estes pequenos arbustos chegam a atingir até 150 cm de altura e as flores ficam no ápice das hastes.




A planta em meio ao cerrado (Imagem: Cláudio Gontijo)




É uma planta típica das savanas, do cerrado, ocorrendo até em algumas regiões semi-áridas. Renova-se anualmente, dependendo da condição climática. Possuindo cor rosácea característica, a floração ocorre no verão, em períodos mais chuvosos.




A flor da Rosa-do-cerrado (Imagem: Cláudio Gontijo)





No cerrado estas flores produzem substâncias que serão utilizadas pelas abelhas para a produção de cera e mel. 




Imagem: Cláudio Gontijo






segunda-feira, 2 de março de 2020

Columba livia, pombos perigosos: ornitoses por fungos, bactérias

Uma das espécies mais comuns de pombos que se adaptaram ao ambiente urbano é a chamada Columba livia. Na cidade eles encontram alimento em maior quantidade, são tolerados pela população e não são incomodados por predadores. Normalmente, na natureza, fazem ninhos em locais altos, de pouco acesso e  alimentam-se de sementes e grãos. Fora do seu habitat eles buscam o interior dos telhados, forros, de casas mais altas, para moradia e reprodução.


Os pombos buscam alimento em diversos lugares

Vivem em grupo e podem localizar com precisão seus pontos de reprodução mesmo quando se afastam a dezenas de quilômetros. Um casal se reproduz 4 a 5 vezes por ano com dois ovos em média por ninhada. Em duas semanas os ovos eclodem e os filhotes voam em mais 4 semanas.  Quando identificam regiões de acesso para o seu acasalamento, atraem outros da mesma população. Quanto maior a disponibilidade de água e alimento maior é sua frequência reprodutiva. Como não possuem um paladar exigente para a alimentação, ingerem restos de comida deixada fora do interior das casas e até mesmo lixo.


O ninho em vãos do telhado.

Estas aves frequentam vários ambientes nas cidades e este é um dos fatores pelos quais costumam adquirir grande quantidade de fungos, bactérias. Os microrganismos podem contaminar a água e os alimentos. As fezes dos pombos secam e são espalhadas pelo vento podendo causar doenças como alergias, dermatites (erupções na pele e coceiras), ou mais graves como a criptococose, ornitose, salmonelose (bactéria Salmonella presente nas fezes, que contamina carne e ovos, causando intoxicação alimentar com diarreia, vômitos, febre). A criptococose é transmitida pela inalação de fungos através da poeira das fezes secas destes animais. Atinge o pulmão, o sistema nervoso central, com infecções pulmonares e determinadas formas de meningite.



Pombos no telhado em Lassance, as frestas foram fechadas


É possível afastá-los, promovendo a sua migração para ambientes naturais adequados:

- Não deixar restos de alimentos mal acondicionados; farelos, rações, cereais.
- Não alimentar os pombos.
- Fechar os vãos dos telhados, forros, frestas.
- Retirar ninhos e limpar as fezes com desinfetantes.


Embora tenham uma aparência mansa e muitos os associarem à paz e a beleza das cidades, os pombos urbanos representam riscos para a saúde pública. Na verdade não possuem nada de atrativos se considerarmos que são reservatórios naturais assintomáticos de inúmeros microrganismos. Ações educativas devem ocorrer direcionadas à população de um modo geral, no sentido de prestar esclarecimentos sobre a real situação destas aves entre ruas e casas.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Pau d'arco, o Ipê da mata.

                                                                                                                                                              Nos meses de agosto a novembro, variando de acordo com o clima e região, ocorre a floração desta bela espécie; Tabebuia serratifolia. A árvore é conhecida como pau d'arco, ipê da mata, ipê do cerrado,entre outras denominações.  O pau d'arco destas imagens foi fotografado em uma mata ciliar,
onde é encontrado com frequência.                                                                                                                                                                                                                              .
  


      



Entre novembro e dezembro as suas flores dão origem a vagens esverdeadas contendo em seu interior as sementes. Em um período curto de tempo estas estruturas secam e são liberadas. Elas são aladas, ou seja, são envolvidas por películas que as tornam facilmente transportadas pelo vento. 







O pau d'arco possui uma casca grossa e pode atingir uma altura média de 20 metros. Sua madeira é muito resistente e durável, motivo pelo qual foi sendo derrubado ao longo dos anos. 





A sua semente pode ser cultivada na produção de mudas. Para este fim as vagens devem ser secas. Retiradas as sementes, elas serão plantadas em sacos apropriados preenchidos com terra que misture argila, areia e humus. A germinação ocorre em duas ou três semanas. Em três ou quatro meses as mudas já podem ser transplantadas.













Imagens e texto: Cláudio Gontijo

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A natureza cobra












A natureza cobra o que lhe é devido. Cobra a cobertura vegetal, a calha natural dos cursos d'água, o espaços de solo retirados indevidamente, a qualidade do ar atmosférico. Mas não cobra de forma rápida, cobra em longas prestações.

sábado, 25 de janeiro de 2020

As chuvas, os alagamentos.











O homem alterou além do que poderia. A grande expansão industrial na Europa, America do Norte e Ásia, o aumento substancial da frota de veículos no planeta, lançou na atmosfera volumes cada vez mais crescentes de gases. Emissões danosas que modificaram o cinturão natural protetor da terra. Estes buracos expuseram o planeta à maior radiação solar, alteraram a temperatura dos oceanos; um dos fatores mais importantes para toda a mudança climática ocorrida. Os principais países industrializados, os mais ricos economicamente, descumpriram os tratados de controle desta emissão de gases. A conta foi feita e terá que ser paga. O desequilíbrio  global não cobra de forma instantânea, cobra em prestações.

O anormal fenômeno de aquecimento e as alterações nas temperaturas dos oceanos compõem o descontrole climático. Nevascas extensas, alagamentos, incêndios florestais, derretimento das calotas de gelo polares.

O Brasil também errou e sofre estas consequências. A vegetação foi arrancada para os plantios agrícolas em larga escala, para a pecuária e a exploração da madeira. Extensas áreas da floresta amazônica foram dizimadas na prática deste comércio madeireiro e projetos agropecuários. Estima-se que 20% deste bioma já foi destruído.

Hoje restam cerca de 7% de vegetação da Mata Atlântica, esta cobertura vegetal já ocorreu em mais de 30% do território brasileiro.

O cerrado é o segundo bioma da vegetação brasileira. Embora a sua destruição tenha diminuído nos últimos anos, estima-se que quase metade da sua estrutura foi destruída. O plantio de soja e milho, a pecuária, executados por grandes empresas com técnicas e maquinários avançados, foram os principais fatores da sua destruição. Parte do seu corte sistemático ao longo dos anos para a produção de carvão vegetal, alimentando as siderurgias, foi praticado pelos menores proprietários de terra. 

O país hoje possui menor cobertura vegetal, menor evaporação, clima mais quente e desordenado. E sofre por estes dias com as tempestades no sudeste. Grandes massas de ar  úmidas saem da amazônia e cruzam o país. Frentes de ar frio chegam ao sudeste advindas da Antártica. São grandes zonas de convergência (fusão, união). Grande parte destas alterações tem origem também na modificação das brisas marítimas. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) realiza pesquisas e prevê que nos próximos 60 anos estas chuvas extensas e seus alagamentos irão continuar, em um grande ciclo.

O problema brasileiro conta também com o aumento populacional e ocupação desordenada das cidades, com a falta de um plano diretor que organize este crescimento. Casas construídas nas elevações, cortes extensos em áreas com restos de vegetação nas encostas e morros. Córregos, rios, assoreados pelos sedimentos de terra que se soltam, ou canalizados, não escoam o maior volume de água. O excesso de lixo depositado nas ruas entopem os bueiros que drenariam grandes áreas impermeabilizadas pela pavimentação.

O futuro está ancorado na reversão de boa parte desta realidade. No controle da emissão de gases em tratados mais rígidos, no reflorestamento sistemático. E a maior de todas as ações; a educação ambiental que formará gerações mais críticas. Gerações que vão se alimentando não só do ensino nas salas de aula, mas da visão cruel de todas estas catástrofes. Novas gerações mais preparadas, conscientizadas, para as alterações de todo um contexto equivocado. Jovens que serão capazes de construir de forma sustentável, de forma a respeitar o curso normal do grande bioma terrestre.