Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Nyctidromus albicollis , o Curiango-comum

Curiango-comum ou bacurau, como são conhecidos,  são aves de hábitos noturnos que vivem nas bordas das matas, matas ciliares dos rios, no cerrado, em campos modificados para o cultivo. Vivem em uma ampla área que vai desde a América Central até o norte da Argentina.

Durante o dia eles preferem a vegetação mais fechada onde costumam ficar praticamente imóveis e camuflados entre as folhas. Quando a noite vai se aproximando eles pousam em áreas mais abertas à procura de alimento. Embora permaneçam boa parte do tempo no solo, são voadores de grande habilidade devido às suas asas vigorosas. Capturam grande quantidade de insetos ao pousar ou durante o voo ao abrir largamente o bico (besouros, mariposas, formigas, gafanhotos). Costumam ser vistos mais facilmente nas estradas à noite, voando de um ponto ao outro quando são incomodados.




O pássaro no chão, camuflado, como é seu hábito. 


O seu ninho também é feito no chão, sem muitos ramos. Em uma meia tigela no solo depositam em média 1 ou 2 ovos que vão eclodir em 3 semanas. Os filhotes permanecerão mais 3 semanas no ninho. Durante este período são alimentados pelo macho (que também se reveza com a fêmea chocando os ovos). Os filhotes vão se arriscando a voos ocasionais e, quando retornam ao ninho, pelo aprendizado, permanecem imóveis e camuflados, protegendo-se dos predadores.



O ninho com dois ovos, no chão.


O canto do Curiango é característico. Pode ser ouvido com mais frequência nos períodos mais quentes do ano, onde a disponibilidade de alimento é maior. Muitos apreciam o som deste canto em meio às noites do sertão, onde são ouvidos em vários pontos. Algumas lendas costumam envolvê-lo.




terça-feira, 10 de agosto de 2021

Coruja-buraqueira II - Athene cunicularia

Os filhotes da coruja buraqueira ou coruja do campo vão sendo observados com maior frequência  de acordo com o volume de reprodução destas aves. A população desta espécie tem aumentado em várias regiões do cerrado. No norte de Minas o volume de chuvas diminuiu nos últimos anos e houve aumento das áreas degradadas (desmatamento) prejudicando a vida de alguns dos predadores desta espécie como gaviões e determinados tipos de serpentes. Por outro lado a alimentação destas corujas é muito variada. Estes são alguns dos motivos que explicam o aumento destas populações. 



                  Um filhote da coruja do campo imobiliza um lagarto. Imagem: Cláudio Gontijo




Os filhotes vão adquirindo a agilidade das aves de rapina (carnívoras) após permanecerem cerca de 30 dias nas tocas em que são gerados, onde a espécie coloca os ovos. Após este período já são capazes de caçar a presa para a sua sobrevivência.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Pais

 



















Pensamos que o próprio tempo é quem vai, aos poucos, diminuindo...

o tempo que ainda temos.

Engano nosso.

O tempo é quem pode mesmo nos dar mais vida.

Vida em novas vidas.

Vidas que não pedem velhice e nem juventude.

Pedem por nossas mãos, 

um afago.

E transformam,

cheias do que há de bom.

De risos que enchem de vida,

que cicatrizam a ferida.

Mudam de lugar, tudo.

Esquecemos do tempo que nos resta.

A cada hora do dia esse tempo é precioso.

Parece mesmo aumentar o que nem tanto tínhamos.

Ainda temos muito tempo.

Ainda temos vida em nossas vidas.



quarta-feira, 16 de junho de 2021

Coruja-buraqueira, Coruja do campo.

No Brasil a  coruja buraqueira (Athene cunicularia) vive em habitat diversificado como planícies, campos de pastagens, cerrado, nas proximidades das matas ciliares, e adapta-se até mesmo a ambientes urbanos. Possui hábitos diurnos, mas pode se manter ativa em horários noturnos. Apresenta visão e audição muito aguçadas. O seu campo visual pode identificar a imagem de forma tridimensional e é facilitado em função da capacidade que a ave possui de girar a cabeça em um ângulo de até 270 graus. 


A coruja buraqueira no interior de uma varanda em região rural. Imagem: Cláudio Gontijo

Alimentam-se de forma muito variada, são insetívoras e carnívoras. De acordo com a disponibilidade ingerem principalmente besouros, gafanhotos e grilos. Como alimentação carnívora comem pequenos roedores, aves de menor porte, lagartos, cobras. 


A fêmea possui tamanho um pouco menor do que o macho e tonalidade mais clara de penas. Imagem: Cláudio Gontijo

Abrigam-se em buracos no chão que são capazes de perfurar com o bico e as garras. Utilizam muito os que são cavados pelos tatus a uma profundidades que chega a 3 metros em sentido horizontal. O fundo costuma ser forrado por ramos e esterco. O cheiro do esterco atrai muitos dos insetos usados na alimentação, como os besouros.

Nestas tocas realizam a reprodução. A fêmea vai botando os ovos ao longo dos dias. A postura finaliza com cerca de 8 a 10 ovos, em média, que eclodem após 30 dias. O filhotes vão sendo alimentados geralmente pelo macho, que também na maior parte do tempo realiza a guarda da moradia. Após mais 4 semanas adquirem uma certa autonomia e já podem deixar o ninho. O casal adulto realiza a proteção do ninho com muita destreza e costuma atacar animais que se aproximam, até mesmo o homem, realizando voos rasantes e investindo na direção do invasor.




A coruja em hábito noturno. Imagem: Cláudio Gontijo


domingo, 28 de março de 2021

Para caminhar

Deus é abundância, nunca sofrimento. A criação não nos será arrancada como punição. A face divina não é a do castigo.

As dificuldades são fruto de nossas escolhas. Se escolhemos mal é necessário nova jornada. Constrói-se um novo caminho através da verdadeira valorização da vida. Vida que muitos perderam e ainda perderão. 

Um bom caminho é sempre o que indica a partilha. Partilhar no sentido de dividir. De repartir oportunidades. Dividindo retomaremos a existência que um dia encontramos. Sem pressa, um pouco a cada dia. Sem mentiras, sem excessos. 

Uma nova jornada inicia-se a partir da aceitação de que todos, sem restrições, necessitam das mesmas possibilidades. Sem a distribuição destas possibilidades, não haverá como produzir os bens necessários, já que poucos, cada vez menos, poderão adquiri-los. Esta é a verdade que nos foi ofertada, como o maior caminho. 

Estaremos em nova estrada ao entendermos que enfraquecemos a própria vida, quando subtraímos as oportunidades uns dos outros. 

Quando tudo passar ainda restará muito a ser vivido, a ser verdadeiramente compartilhado e, assim, abençoado.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Rastros

 






Em uma mesma estrada,

estrada de terra, 

terra arenosa, no ermo do cerrado, onde não se ouve nenhuma conversa que seja,

os rastros vão minguando.

Os rastros são mesmo dos companheiros, de conhecidos,  benquistos, de muitos até mal vistos.

E o caminho já está fundo, cortado como é,  pela lâmina das máquinas,

lâminas  que escavam também os dias.

Mas é que tudo se comunica, se enrosca, como num novelo,

onde não se enxerga o início,

nem o fim.

Assim se entende, como se vai mesmo entender,

que qualquer daqueles que vão conosco pelos caminhos pisados, de poeira,

andam junto da gente por muitas das nossas precisões,

para o clarear das ideias.

Andam junto da vida, qualquer tipo de vida.

E quando damos falta, a lida de um dia parece que nem termina, 

e tudo vai ficando como que por ser arrematado.

É que vamos esquecendo que o arremate só termina com um palpite, pouca prosa que seja.

E assim o cortado da foice  não é de todo cortado,

o conselho não vem como vinha, diante do suor e cansaço.

As mãos já pouco se movimentam, os acenos vão ficando nos cantos, nos cantos dos trilhos, das enxurradas.

E aí já nem rompem mais o silêncio medonho, o medonho da solidão.

E quando mesmo a claridade vai sumindo, os rastros somem primeiro.

E a lida vai ficando sentida.

Mal vivida.

Não aumenta de pronto a saudade.

Aumenta aos pingos, nas pontas dos ramos,

no breu da noite,

no apontar do sol.

É assim que muitos devem sentir a falta dos que se vão,

talvez o gosto que fica no estalar da língua.

E quando os dias vão correndo,

quando o tempo vai escorrendo,

vai brotando mais e mais a vontade,

de ver a figura de qualquer destes conhecidos, 

lá bem no meio da esperança que ainda se alcança,

no cabo da enxada,

lá no alto da estrada.