Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Palavras





Muitas palavras  estão guardadas,
armazenadas e bem arrumadas,
em caixas de papelão,
em estojos de marfim,
em bolsas de múltiplos adornos,
em embalagens de papel de seda,
em embornais de couro cru,
nos cofres de aço,
nas linhas tecidas e bem amarradas
do corpo e da alma.
Se foram ditas, nem todos souberam,
alguns ouviram e maldisseram,
outros silenciaram,
outros ignoraram.
E aconteceu que também idolatraram,
emocionaram.
Porque foram malditas,
engolidas e escondidas,
contidas, distorcidas,
dilaceradas e profanadas,
Cantadas,
recitadas,
talhadas e arranjadas.
E, assim, costuradas ou estranguladas,
perderam-se quando rasgaram como lâminas,
enfeitaram na delicadeza,
perfuraram quando foram pontiagudas e intolerantes,
revitalizaram em gestos de misericórdia,
seduziram em paixões sem tamanho.
Quando vieram piedosas,
acalentaram o choro incontido,
transformaram o chão batido,
ampararam o corpo combalido.