Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Solidão

Há alguns anos atrás em um asilo, pude observar com clareza a rotina de alguns idosos. Seus amigos haviam partido, muitos dos seus familiares também. Os que ficaram estavam distantes. Naquela solidão eles queriam a aproximação do outro. O colega de quarto, o vizinho da cama ao lado, da cadeira próxima nas tardes de sol na varanda. Aqueles internos, de uma outra geração, tinham uma tarefa difícil; o outro para eles era um estranho, não sabiam a origem, qual era a família, qual teria sido a ocupação nos tempos de juventude.

Muitos de nós já podemos estar em um asilo psicológico. Talvez já tenhamos encaminhado alguns de nossos amigos, familiares, colegas de trabalho para o mesmo isolamento. O individualismo e o jogo por novas oportunidades faz com que nós banalizemos as aspirações do outro. Quando nos sentimos ameaçados; ignoramos, maldizemos, limitamos, agredimos, afrontamos. Isolamos e nos deixamos isolar. É a solidão que cria o vazio incômodo.

Ao contrário daquela geração com idade avançada, limitada em suas ações, que insistimos em estimular exageradamente sem perceber que eles precisam da paz e do descanso, nós temos mais vigor, capacidade maior de aceitação, menos desconfiança. É possível para nós, sempre, uma retomada. É muito mais difícil para eles. É possível a recusa pelo caminho para os portões do asilo que nós construímos. Para nós e para o outro.




Embora em alguns momentos se fragilize, a natureza não é solitária. Imagem: Cláudio J. Gontijo



Oração

Senhor, afasta-nos do egoísmo que limita a nossa clara visão,
para com nós mesmos e para com aquele que, junto conosco, precisa deixar o isolamento.
Não permita que nos distanciemos de nossa origem de luz,
que nos isolemos dos princípios da boa vontade,
da caridade e da fé.
Que nós tenhamos sempre em mente a necessidade do amor incondicional.