Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O mistério da Fé

Mesmo diante de toda evolução tecnológica, histórica, cultural que julgamos ter adquirido, nós ainda temos muitas verdades a serem aceitas. São verdades incômodas porque nos colocam diante daquilo que transcende a própria existência. Verdades múltiplas que se fundem a uma só; à grande e inquestionável natureza da Fé.








A Fé nos inquieta e nos coloca diante das nossas diferenças, das nossas imperfeições, das nossas fragilidades. Sem perceber podemos caminhar na trajetória inútil de dar à própria vida um sentido que a distancie daquilo que é Sagrado. Tudo porque a queremos acessível, fácil, nas prateleiras do nosso consumismo. Nós a queremos sob medida, sob encomenda para desejos pobres, aspirações doentias, vícios escravizantes. Queremos que ela nos proteja ou nos esconda daquilo que não desejamos estampar aos outros e, muitas vezes, nem a nós mesmos.











Não moldaremos a Fé em nenhum Templo, em nenhuma corrente religiosa, nem sob o aval de nenhum profeta. Simplesmente porque ela é germinada e nasce com a nossa própria face, ela está em nós, na nossa porção de verdade e amor. Ela é insondável porque representa a própria Criação em nós, representa Deus em nós mesmos. Mesmo que respeitemos e acreditemos em dogmas, ritualismos, princípios fundamentais religiosos, só teremos a experiência da Fé quando renunciarmos a tudo o que nos diminui, tudo o que nos distancia da partilha, que nos distancia da proximidade real com o outro que caminha conosco. Se renunciamos temos a possibilidade de enxergar toda a existência sob a ótica da inteligência superior que nos direciona à comunhão, caminharemos com a fecundidade necessária para a experiência de verdade e vida plena.










A tentativa de fragmentar a Fé, de subdividi-la em pedaços a serem oferecidos como presentes mentirosos e tendenciosos, nos enfraquece, nos distancia do amor de Deus. Mesmo que possamos vivenciar e testemunhar os seus benefícios, nos nunca poderemos decifrá-la enquanto seres humanos. Este mistério só nos será revelado quando formos chamados a viver uma só vida, na Eternidade.

Ainda assim a nossa existência terrena só terá sentido se nos dispusermos, em árdua jornada, a experimentarmos a grandiosidade da Fé.



Texto e imagens: Cláudio Gontijo


domingo, 14 de junho de 2015

Feridas





Que a esperança,
possa nos livrar do sentimento de rancor e amargura,
que chega à luz do dia para amortecer toda a fé e a alegria.
Todas estas feridas que experimentamos não vêm do que é Sagrado.
Nós é que as criamos com máscaras douradas de perfeição,
disfarçando nossas fragilidades com o que é artificial e imensurável.
Mesmo que escureça e ainda estejamos aqui, diante desta oração,
preferimos acender a luz,
a nos lamentarmos na escuridão.








Texto e imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG