Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Tecidos






Hoje terminamos e arrematamos mais uma leva do que nos foi enviado.
Costuramos, cuidadosos, com tesoura e agulha.
Fechamos tantos e tantos agasalhos frágeis que necessitavam de reparos.
Alinhavamos toda a mágoa que através dos rasgos mostrava a pele fragilizada.
Fizemos remendos para vestir melhor e libertar os membros dos ressentimentos já velhos.
Braços, mãos, ávidos, que permaneceram expostos ao relento e à indiferença.
E continuamos porque tínhamos a urgência dos que sofrem com a dor alheia.
Cortamos aquilo que percebemos em disposição para a discórdia, com os botões quebrados.
Tingimos para que todas as vestes mostrassem cores de alegria,
cores da alma limpa e perfumada de jasmim.
E pedimos em nossas preces que continuássemos com a chance de reparar sem preconceito,
fazendo de novo novas peças de algodão e esperança,
com todas as tonalidades que nos fosse permitido,
até o fim do dia,
enquanto tecido tivéssemos.