Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Em casa

 








A vida se decide mesmo é nas horas mornas da manhã.

Nove horas de uma manhã comum, 

onde ninguém passa.

A mulher varre o passeio,

seu semblante é o mesmo.

Expressa um olhar que se perde, sem ânimo.

Suspira ao longo do tempo, 

o tempo que já foi urgente.

E, aos poucos, as sombras se movimentam,

e tudo vai se moldando.

Não muda de repente, mas ao longo das horas.

E, lá dentro, o som do rádio mostra falas baixas, distantes.

Ninguem notou.

Mas por aqueles instantes que já  iam embora, 

antes do fogo ser aceso,

antes do que foi recolhido no varal,

do aceno guardado, 

da solidão voraz,

foi então se assentando um novo tempo.

Uma notícia, um alento, uma idéia.

Veio do que passou, ficou por ali,

e deixou novidade, 

no incerto do dia.

Um lampejo.

Agora, quando vier a tarde, 

quando todos voltarem,

o vestido já será outro.

Não mais como antes,

não antes do fim do dia,

a vida já não é a mesma.


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Pétalas

 





Em silêncio,

e no silêncio, o tempo é curto.

Vai escorregando, escapando, 

nos dias que vem e vão.

Um buquê sem cheiro,

que nunca de todo se compra, 

estampa-se em uma árvore inteira.

Vem oferecido, por isso não tem medida.


Os galhos se abaixam, derramam,

colorem lentamente também o chão.

Colorem a tarde, 

e, à noite, tudo descansa. 

 







Acredito que um amor sem tamanho recolhe tudo e reparte, 

e continuará  repartindo;

em sombras que descansam no mormaço,

em sementes que se afundam na terra, no arenoso do chão.






Tudo deve mesmo é compor muitas das coisas, 

o que nem se pode alcançar. 

Não tem início, não tem fim.

Mas é facil entender; é vida.

Vida nestas pétalas,

no estalar dos dias.

Vida que dorme no sertão.

Vida que acorda ainda no escuro.






Imagens: Cláudio Gontijo

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A paz de Deus

 Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças.

E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus.







Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos.

O que aprendestes, recebestes, ouvistes e observastes em mim, isto praticai, e o Deus da paz estará convosco.


Carta de São paulo aos Filipenses 4:6-9








Imagem: Cláudio J Gontijo

domingo, 17 de julho de 2022

A esperança que não engana











 "...mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência,

a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança.

E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".




Carta de São Paulo aos Romanos 5:3-5

























Imagens: Cláudio J Gontijo

domingo, 19 de junho de 2022

Histórias do Sertão 12: Pedro Bigode








Se a memória não está de todo manchada, conheci aquele homem há pouco mais de 30 anos. Eu o via no interior da sua barbearia, no centro da cidade. A pintura nova dava ar de limpeza. Este dono apreciava o conforto oferecido. E lá estava a sua figura quase sempre de pé, com camisa de bom tecido, sapato engraxado. O cabelo bem escovado já trazia também a barba grisalha e muito aparada.  


Pedro Bigode não carecia de rodear muito a cadeira de ferro. Tinha perícia, tinha habilidade com os dedos,    no deslizar do pente. Quase nem se ouvia o barulho de sua tesoura desenhando todos os cortes. Agradava homens vaidosos e outros só práticos. Atendia também aqueles que traziam pouco tempo, sem disposição para muita prosa.


Talvez pela fama, talvez pela dinheirama que recebia ao final do expediente, ou  pela boa natureza  herdada, tinha sorriso largo, postura firme. O corpo se movimentava  resolvido e a mesma fama corria longe. A fala era espirituosa mas preferia ouvir, silencioso. Parecia confortar com a sua discrição bem calculada. Oferecia a compreensão de um bom ouvinte, estampava uma figura até mesmo carinhosa.


Dava gosto até de ficar por ali nos bancos de espuma, foleando os jornais pardos, de noticias passadas. Alguns iam todos os dias e, já não tendo o que retocar, espiavam outras cadeiras ocupadas. Pedro tinha mesmo um negócio de bom rendimento, tinha mais empregados, bem escolhidos.


Todo o tempo passou, como nem se pode mesmo evitar. E, se há o que reclamar, o melhor é recolher, guardar bem guardado. Habituar na disciplina de pensar o que nos convém; o que não nos pesa tanto. E assim aquele barbeiro estava agora à porta, envelhecido pelos seu 75 anos, de cabeleira branca, difícil de ajeitar. O interior daquela sala de maior espaço só tinha agora a sua cadeira. Tudo já parecia acanhado, desbotado pelos anos. Não havia ninguém ali.  


Quando o vi já quase no passeio tive curiosidade. Muitas vezes passei por aquela fachada, diversas vezes li o nome escrito na parede, acima da entrada. Pedro Bigode. E pelo momento trabalhoso que todos vamos atravessar, pelo vazio na tarde fria, resolvi entrar. E foi então que de maneira inesperada, pelo tom da fala, ouvi a sua voz agora ainda mais cautelosa. Dentro de toda aquela simplicidade, daquele local que parecia esquecido, experimentei mesmo, além do corte ainda caprichoso, a calma e a sabedoria de um homem como poucos que avistamos nas empreitadas. Quase não se percebia os seus movimentos, e toda a sua silhueta era naquele momento de total sutileza, jeitosa pela prática de 50 anos. Talvez por toda uma existência dedicada a um único ofício, tirou de mim estas palavras que descrevem alguma parte daquilo que vivi ali. O Pedro sábio.


Muitos dos que hoje já apreciam lojas de estilo, jovens que são, e não há qualquer reparo nisso, só perdem mesmo a possibilidade de aprenderem um bocado a mais. Ouvir aquela voz que, por si só, já reproduz de pronto o acolhimento. Mas hoje o bom nome não costuma mais correr em assuntos de varanda, vai se  esparramando eletronicamente. E como o mundo das pequenas telas nem sempre reproduz a imagem certa, o Pedro de Palma ficou mesmo foi esquecido. Pedro Bigode.


Acredito que o Pedro ainda possui certa clientela. Mais envelhecida também, é certo. Do contrário não estaria ali, olhando o movimento dos carros, daqueles que passavam.  Quase ia ficando em branco mais um acontecido, uma outra conversa que tivemos a mais. Concordamos no nosso gosto pelo cultivo das plantas de frutas. Ele disse que fazia inúmeras mudas para plantio e distribuía para aqueles que assim quisessem. E lá fui eu como acabamos combinando, na hora do seu almoço, buscar uma Goiaba de Quilo; já agora bem plantada. Daqui a alguns anos se eu puder saborear a fruta, me virá novamente na lembrança o Pedro Bigode. Na sua calma e gentileza ainda viverá muito, ofertando muitos cortes, prosas e goiabas de quilo.



sexta-feira, 27 de maio de 2022

Santo Agostinho

Se não queres sofrer não ame. 

                                                     Porém, se não amas, para que queres viver. 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Trachycephalus mesophaeus, a perereca leitosa

 Este pequeno ser vivo com cerca de 6 a 7 cm de comprimento ocorre em variadas regiões do Brasil, do estado de Pernambuco ao Rio Grande do Sul. Habitando áreas da mata atlântica, bordas de matas ciliares, florestas tropicais úmidas, geralmente com arvores situadas nas proximidades de várzeas, lagoas, córregos e rios. Estes anfíbios se reproduzem nos períodos de estação chuvosa, geralmente nas margens da água, até mesmo em poças menores.



 A espécie à noite utiliza as ventosas presentes nas patas para se fixar na parede. (Imagem: Cláudio Gontijo)



São indivíduos que se adaptam bem ao ambiente doméstico movimentando-se mais à noite, quando deixam os esconderijos utilizados durante o dia. Os insetos atraídos pelo luz, sobretudo em casas localizadas em áreas muito arborizadas, com vegetação abundante, lhes servem de alimento. São besouros, grilos, pequenos gafanhotos, baratas, louva-a-deus.












          O anfíbio busca insetos que são atraídos pelas luzes externas da casa (Imagens: Cláudio Gontijo)




O corpo destes anfíbios apresenta grande número de glândulas produtoras de secreções protetoras da sua epiderme. Esta secreção, de aspecto leitoso, é também utilizada para captura de alimento e para sua defesa; é formada por um  líquido viscoso, pegajoso, muitas vezes fétido e até mesmo tóxico.

Nestes últimos meses, no norte de Minas, muitos gafanhotos tem atacado diversos tipos de plantações numa região próxima à mata ciliar (plantios de mandioca, mamão, cítricos, plantas ornamentais),  O aparecimento desta espécie pode contribuir para o controle ou a diminuição desta população de orthópteros (gafanhotos).







quinta-feira, 24 de março de 2022

Mamão Formosa (Carica papaya)

O mamão é um fruto de grande valor nutritivo. Alguns dos seus benefícios são:

- Apresenta  grande teor de proteínas (função plástica e energética) e fibras. As fibras agem como bons reguladores do funcionamento intestinal. 

- Possui enzimas que auxiliam no metabolismo do colesterol, atuando como substâncias importantes na redução do LDL (colesterol ruim, cujo acúmulo nas artérias pode ser causa de problemas cardiovasculares). 

- É rico em betacaroteno (precursor da vitamina A).

- Suas sementes também podem ser consumidas. Possuem boa quantidade de fibras, são ricas em vitaminas A e C, e minerais como potássio, magnésio, cálcio.

O cultivo do mamão formosa é relativamente simples e possui bom rendimento. Seu frutos atingem em média 1 a 2 kg. Desenvolve-se bem em solos arenosos-argilosos, com boa drenagem. Necessita de aproximadamente 4 a 6 horas de luz solar. 

Pode-se depositar as sementes diretamente no solo (em covas de aproximadamente 20x15 cm, ou cultivar as mudas em pequenos sacos plásticos adquiridos em casas de produtos agropecuários, assim como as suas sementes. As sementes germinam em 15 dias. As mudas devem transplantadas ao atingirem tamanho de 15/20 cm. Para o plantio doméstico do mamão deve-se manter uma distância de 2,5 metros entre uma planta e outra.




                                                               


      Mamão formosa com aproximados 1,5 kg de peso (Imagens: Cláudio Gontijo)



                         

A sua vida produtiva é de cerca de três a cinco anos. Em três a quatro meses após o plantio ocorrerá a floração. Os frutos estarão formados em um período de 12 a 15 semanas. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Mãe

 






Hoje pude observar os seus movimentos.

Haviam passos que caminhavam até sem cuidado.

Rápidos, resolvidos.

Às pressas, quase sempre às pressas.

É que o seu cuidar não se limita.

É mistério, é vasto.

Mãe.

Em memórias fragmentadas, 

e agora junto a estas frustradas linhas,

tentei novamente, hoje, aproximar-me do seu zelo,

do seus sentimentos.

É bom tentar sempre.

Porque são muitos os que desejam experimentar, entender a sua ternura, 

que deixa os desejos próprios.

Parece ir se purificando com o passar das horas.

E plena, como certamente deve ser,

volta-se em todo o tempo para aquele que, ao se criar em vosso ventre,

em vosso coração,

torna-se a maior parte da sua existência.

Não pude limitar o seu acolhimento.

É sobrenatural.

Não se apalpa.

Vejo mesmo é que doa tudo de si sem qualquer estanque,

sem desejo de troca,

em amor sem igual.

Amor que não é vaidoso,

que não desanda.

Amor que não reclama,

não se aflige.

Amor que é vida,

como a vida quer.

Como a vida vai mesmo ser.