Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Canário-da-terra


Observando os pássaros nas proximidades do Velhas, notei uma espécie de coloração amarelada alimentando-se das sementes da vegetação rasteira. Junto do exemplar havia outro de cor cinza/parda. Constatei que se tratava de um casal de Canários-da-terra, conhecidos em Minas por muitos como Canário-chapinha. Fiquei surpreso, na época, pois eles andavam sumidos, devido à captura criminosa e ao extermínio de grandes populações por sementes impregnadas de agrotóxicos.



O casal de canários-da-terra (Sicalis flaveola). O macho de cor amarelada. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG




O macho possui cor amarelada e a fêmea a cor cinza. Por ocasião do acasalamento no período do verão, o macho exibirá um canto melodioso e poderá até executar uma dança rápida para atrair a sua parceira. A fêmea botará em média quatro ovos que irão eclodir em duas semanas. Com mais 20 dias os filhotes já poderão voar. Os seus ninhos são feitos por capim seco, cobertos, em forma de uma pequenina cesta. São utilizados até mesmo casas de joão-de-barro abandonadas, buracos em madeira oca, aberturas em telhas.




A fêmea (cinza) pousada num dos galhos da Bougainvillea. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG





Esta espécie é originária da América do Sul. Vive em locais de vegetação seca, na caatinga, no cerrado, nas margens dos cursos d'água. Seu alimento predileto são as sementes de gramíneas. Mas ocasionalmente podem servir-se de insetos.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Flores

Flores que pintam,
perfumam a lida,
em morte e vida.
Brancas, vermelhas  amarelas,
de todas as singelas
primaveras e aquarelas.




Flores que denunciam amores,
despertam louvores,
alicerçam fervores,
favores.
Clamores.
Removem pavores,
dispersam rancores,
Odores.
Aliviam dores.
Cores.





Imagem: Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG



terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Coruja e o João-de-Barro


Há algum tempo ouvi sons estranhos que vinham dos galhos de uma árvore, um velho Tamboril. Piados repetitivos, numa sequência quase hipnótica. Já era noite alta, escura, de lua crescente. Fui até a árvore, a poucos metros da varanda e foquei a lanterna numa casa de joão-de-barro. Tive uma surpresa. Na pequena porta de entrada uma outra ave se mostrava. Não era quem deveria estar ali.

Disparei a máquina, buscando o foco no clarão efetuado pela lanterna. Ainda surpreso, lembrei-me de que o João-de-barro não costuma reutilizar seu ninho. Sua opção é pela tolerância e partilha. Enquanto seus ninhos resistem às intempéries, vão sendo utilizados por outras espécies de pássaros.


A coruja-do-campo e a casa do joão-de-barro. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG

Mas o que fazia ali uma Coruja-do-Campo. Ave de rapina, que costuma arquitetar seu ninho em buracos no chão. Por isto são também chamadas de Corujas-buraqueiras. A figura estava lá, estática, à entrada do ninho. Parecia uma rolha, obstruindo a casinha de barro.

A ave predadora teria invadido o ninho de outra espécie, buscando pequenos ovos e filhotes? Ou estaria naquele local compondo a reprodução da sua própria espécie ?

Na tarde de hoje, dentro das muitas reflexões, recordei-me do João-de-barro e da Coruja. Lembrei-me novamente da partilha e senti saudade. Vontade de rever muitos e muitos amigos distantes. Personagens de encontros e desencontros, como aqueles pássaros. Espécies difusas, de hábitos alimentares contrários, mas de histórias afins. Propiciadas pela necessidade de sobrevivência, na grande e eterna comunhão ecossistémica.
Concluí que a proximidade e a convivência são pilares que vão solidificando os valores de toda uma existência. Uma vida em comum que edifica, que apara as diferenças e promove o crescimento. Uma jornada que se torna mais rica a cada di.a, para afastar o vazio e as arestas, para promover a vida plena e verdadeira. A exemplo da Coruja e do João-de-barro

domingo, 11 de agosto de 2013

Primavera

Quando não sabemos para onde ir, qualquer caminho nos parece familiar. Então a verdade é bússola.

Com simplicidade e espontaneidade vamos percorrendo a jornada, porque esta é inadiável. 

Na natureza tudo germina a seu tempo, mas não é possível extrapolar seus limites. Assim as brácteas só vão proteger as minúsculas flores da Primavera (Bougainvillea) até um determinado período.



As brácteas e flores da Bougainvillea sp. Imagem: Cláudio José Gontijo/Lassance-MG

Fé e Vida

Quase sempre tentamos retornar ao que imaginamos ser acolhedor. Temos profunda necessidade de compreensão  e calor.

Um dia já choramos desejando voltar ao útero, sem querer deixar os fluídos que nos protegeram. E depois da ruptura, sonhamos com a mesma proteção que já esteve ao nosso dispor.

Seguimos e teimamos com amizades desgastadas, gestos repetitivos, doentios, e planejamos nos manter confortáveis como em tempos que já se foram.

E quando nos damos conta de que a vida vai se alterando e as margens vão ficando submersas, resta-nos o que armazenamos na Alma, referências eternas que juntamos, verdades imutáveis. Resta a nossa própria companhia e a certeza de que somente a Fé nos manterá vivos.


A Serra do Cabral. Imagem: Cláudio J. Gontijo/Lassance-MG


Hoje, já não possuo tantas alternativas. Elas foram sendo naturalmente afuniladas com o passar dos anos. Mas as boas escolhas de outrora me conduziram para onde eu gostaria de estar. E mesmo em clima, às vezes árido, tenho o privilégio de estar junto à natureza exuberante. Aqui vou executando a jornada.

De pé, às margens do Rio, ou caminhando pelo sertão de Jatobás e Pequizeiros, ouvindo o Curiango em noites de Deus e Paz, estou vivo, porque não perdi a Fé.


O crepúsculo, de onde ouço o curiango. Imagem: Cláudio J. Gontijo/Lassance-MG