Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Corromper






Imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG










A corrupção destrói o caráter e a transparência. Os que se deixam corromper, desfrutam o que nunca lhes pertenceu e vivem o desconforto do vazio. Os que corrompem deixam uma nódoa em sua alma.

Quando abrimos mão da verdade adiamos o inadiável; a própria verdade. Corromper não significa destruir a esperança. No final é exatamente a esperança que permanece viva e a vida, intacta, continua a sua trajetória. Estes que pensam ter ludibriado o tempo, enganam-se, pois mesmo com a escuridão as horas seguem sendo irretocavelmente as mesmas.

É inútil a tentativa de alterar, de forma secreta e falsa, as aspirações legítimas daqueles que nos rodeiam. Ao chegar a noite após o crepúsculo, espera-se por um novo dia. E isto nunca nos será tirado, é realidade imutável.
















Texto: Cláudio Gontijo 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Grato






Já não basta agradecer.
Enquanto envelheço vou lembrar.
Dos irmãos que nunca me serão subtraídos,
da mãe que desejamos guardar longe do tempo e da morte.
Lembro do que ganhei, do que sonhei, do que não fiz, do que nunca serei,do que tenho feito, do que ainda terminarei.
Esqueço o que adiei.
Lembro e rezo, rezo e adormeço.
Acordo e lembro.
Lembro e vivo.
Lembro de quase tudo sem ter que descrever em sofreguidão.
Dos córregos, do cheiro de esterco e das roseiras,
da escuridão silenciosa e ampla na varanda da minha infância,
de onde se tinha poucas imagens e escassos recursos.
Lembro de que nem tinha pressa,
nem conhecimento da urgência no grande relógio ao fim do corredor.
Lembro do que me foi ofertado,
lembro que, então, sorri e segui.
Mas ainda assim dou graças por Ana e Cláudia,
dou graças pelo que ainda posso enxergar.
Dou graças por ter como servir,
dou graças por ter partilhado com os humildes.
Dou graças por ter sobrevivido à caridade dos que se fecham a qualquer aceno.
Dou graças porque pude ver muitos pássaros, flores e rios.
Dou graças pelos que me são necessários e pelos que se acham insubstituíveis.
Dou graças pela fé, pela esperança, pela Graça que ainda teremos.







À Dona Lausina, chamada por Deus, hoje, quando completo 51 anos; de quem nunca esquecerei.