Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

sábado, 21 de setembro de 2013

Alma-de-Gato

O nome estranho pode ser uma alusão ao seu canto, semelhante ao gemido de um gato, ou ao fato de se locomover entre árvores de folhagem densa sem ser notado. A tarefa não deve ser das mais fáceis devido à sua cauda longa, difícil de não ser notada quando avistamos este pássaro na mata. 




A longa cauda da Alma-de-gato. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG





De plumagem com uma cor amarronzada, ferrugem, o que a Alma-de-gato (Piaya Cayana) procura são os insetos, seu alimento predileto. Mas eventualmente esta ave invade ninhos para devorar ovos e alimenta-se de pequenos anfíbios, frutas.





Não é comum observar esta espécie pousada no chão. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG





A fêmea e o macho irão se revesar no cuidado com os filhotes. Em média, seis ovos serão depositados no ninho. Em duas semanas os filhotes saem dos ovos e ficarão mais 20 dias sob os cuidados do casal, até poderem voar.

O habitat desta espécie são as matas ciliares e capoeiras, principalmente. Ocorrem em quase toda a America Latina; nas regiões sul e sudeste do Brasil, com mais frequência. A destruição da Mata Atlântica afetou as suas populações.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O Velhas e a sua Velha História

Eu conheci o norte de Minas há 34 anos atrás. Vim com um tio e tive, então, o primeiro contato com o Rio das Velhas. Não desejo narrar em detalhes tudo o que presenciei naquele tempo, nos anos que se seguiram, na década de 80. Posso dizer que eram tempos de fartura às margens do rio. A luz do lampião, os pássaros noturnos, as águas barrentas das cheias, o silêncio entrecortado pelas conversas saborosas, os moradores (poucos e sinceros) me impressionaram. Voltei muitas outras vezes, muitos daqueles se foram; encantei-me pelo sertão e pela minha esposa. Eu fiquei.




Numa manhã fria, o Velhas parece dormir em paz. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG


O inverno, o rio e a Serra do Cabral. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG





Com o tempo o Velhas entrou em lenta agonia. Muitos dos barranqueiros e moradores do "Lavado" partiram, juntamente com meu pai. As águas do rio vieram trazendo mais sujeira. A luz elétrica chegou às margens, a população aumentou, os turistas aumentaram, o esgoto doméstico e industrial já não pôde mais ser diluído. As chuvas escassearam, os córregos passaram a alimentar mal o rio. 


O rio assoreado ainda insiste em estampar a sua beleza. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG



Ao longo das décadas seguintes muitos peixes morreram. O Pirá, O Surubim, o Mandi Amarelo, a Corvina, o Dourado, foram descendo o rio, sem oxigênio, numa dança desesperada, para morrer nas margens presos às coivaras, na imundície e podridão funesta.

Nitrogênio, Fósforo, Enxofre, dos esgotos, dos fertilizantes agrícolas, provocam, hoje, uma crescente eutrofização. A palavra esquisita indica que há na água grande quantidade de matéria orgânica. O ambiente se altera drasticamente. Com o excesso de nutrientes as algas proliferam em grande velocidade. A água verde, impede que a luz solar chegue aos outros organismos fotossintetizantes, sem a fotossíntese não há reposição do oxigênio consumido pelas bactérias, que também se multiplicam de forma alucinada. Com a alteração do ecossistema, muitas espécies somem da cadeia alimentar e todos os outros seres vivos dependentes desta teia ficam com suas populações reduzidas até desaparecerem também.

As maiores cidades poluidoras do Velhas, localizadas na Grande BH, construíram duas ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) de relativa eficiência; a Estação do Onça e Estação de Sabará, capazes de tratar a maior parte dos detritos do Ribeirão Arrudas e Onça, os campeões da poluição. Mas as inúmeras cidades localizadas na calha do rio ainda estão com os projetos de edificação destas estações em atraso.




O verde das algas denuncia a eutrofização. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG




Fugi de um texto de caráter científico, puramente. Porque embora a realidade só possa ser esmiuçada através de descrições químicas e biológicas, eu gostaria de deixar a esperança. De que o rio possa sobreviver. De que as Estações de Tratamento de Esgoto proliferem, assim como as algas vieram, nas cidades ribeirinhas. De que as escolas ensinem cada vez mais, promovendo a educação ambiental. De que, no futuro, o Velhas seja profundamente respeitado. De que a vida volte a pulsar em seu leito.

As águas não estão muito favoráveis ao peixe, mas a Garça-branca, intuitivamente, passeia na pequena praia. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG