Quando o vi já quase no passeio tive curiosidade. Muitas vezes passei por aquela fachada, diversas vezes li o nome escrito na parede, acima da entrada. Pedro Bigode. E pelo momento trabalhoso que todos vamos atravessar, pelo vazio na tarde fria, resolvi entrar. E foi então que de maneira inesperada, pelo tom da fala, ouvi a sua voz agora ainda mais cautelosa. Dentro de toda aquela simplicidade, daquele local que parecia esquecido, experimentei mesmo, além do corte ainda caprichoso, a calma e a sabedoria de um homem como poucos que avistamos nas empreitadas. Quase não se percebia os seus movimentos, e toda a sua silhueta era naquele momento de total sutileza, jeitosa pela prática de 50 anos. Talvez por toda uma existência dedicada a um único ofício, tirou de mim estas palavras que descrevem alguma parte daquilo que vivi ali. O Pedro sábio.
Muitos dos que hoje já apreciam lojas de estilo, jovens que são, e não há qualquer reparo nisso, só perdem mesmo a possibilidade de aprenderem um bocado a mais. Ouvir aquela voz que, por si só, já reproduz de pronto o acolhimento. Mas hoje o bom nome não costuma mais correr em assuntos de varanda, vai se esparramando eletronicamente. E como o mundo das pequenas telas nem sempre reproduz a imagem certa, o Pedro de Palma ficou mesmo foi esquecido. Pedro Bigode.
Acredito que o Pedro ainda possui certa clientela. Mais envelhecida também, é certo. Do contrário não estaria ali, olhando o movimento dos carros, daqueles que passavam. Quase ia ficando em branco mais um acontecido, uma outra conversa que tivemos a mais. Concordamos no nosso gosto pelo cultivo das plantas de frutas. Ele disse que fazia inúmeras mudas para plantio e distribuía para aqueles que assim quisessem. E lá fui eu como acabamos combinando, na hora do seu almoço, buscar uma Goiaba de Quilo; já agora bem plantada. Daqui a alguns anos se eu puder saborear a fruta, me virá novamente na lembrança o Pedro Bigode. Na sua calma e gentileza ainda viverá muito, ofertando muitos cortes, prosas e goiabas de quilo.