Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Vasto tempo



As mãos ásperas que não foram estendidas,
perdidas,
são aquelas que desejamos ter tocado.
Um toque ao longo do tempo vasto,
em meio a tantas chances que se foram, sem propósito qualquer que fosse.
Um afago sem preparo, desavergonhado, mas de delicadeza quase infantil.
Um afago decidido,
qualquer afago que pudesse ser.

As horas foram indo e as mãos ainda clamaram,
ainda gritaram,
mostraram-se em feridas de descaso,
foram limpas por água, esperança,
e tinham cicatrizes,
e tremiam,
e movimentavam-se na escuridão.
Tateavam à espera de qualquer sinal,
de qualquer um que se aventurasse,
de qualquer um que se apresentasse.

E não que a luz do dia tenha tardado,
mas não há nada que não seja moldado,
gasto,
envelhecido.
Como as pedras que são corroídas.
Assim as mãos perderam a cor, o calor, a vida.
Só a memória pôde carregar essas imagens.
Testemunhas de todas as outras, necessitadas de um olhar.
Talvez um único olhar.



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