Imagens: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG
Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo
segunda-feira, 28 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
O Joio e o Trigo
A natureza expressa a presença do Deus vivo. Flores, rios, pássaros, alvoradas, crepúsculos, mostram-se todos os dias amparados em um silêncio que nos é fundamental. Silêncio para a paz, para a reflexão, para a oração, para a contemplação. O Criador em sua infinita misericórdia deseja nos mostrar através dos ecossistemas, que precisamos evoluir para entender cada vez mais a sua criação, os biomas e, consequentemente, a nós mesmos.
As flores do Pequizeiro. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG |
Mas assim como os fatores bióticos e abióticos são corrompidos, e vão, assim, perdendo a sua organização para a vida vegetal e animal, nós também somos tentados a nos deixar corromper. O meio ambiente vai se descaracterizando, as espécies vivas vão se extinguindo, a água, o solo e o ar vão se tornando inadequados pelos elementos estranhos, que os poluem e os tornam mais e mais pobres. O ser humano acompanha esta degradação. Vai se prendendo a valores que não são essenciais, que não lhe são próprios, mas ilusórios e de rápida transição. A alma vai se fragilizando, torna-se vazia, ansiosa e, também, pobre.
O caminho da boa vontade é a jornada da reconstrução. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG |
A disputa que se estabelece pelo que não é perene, pela matéria, divide e enfraquece. De forma contrária, a natureza esforça-se para permanecer unida e se harmonizar, se reconstruir, conectada ao Espírito Criador.
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Amor, esperança e fé no retorno à plenitude. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG |
Assim como toda a esfera verde tende a se reciclar para contornar a degradação, nós também, a partir da dor que esvazia, vamos alterando nossas aspirações, vamos nos aproximando novamente da nossa origem sobrenatural, Divina. Vamos reaprendendo a manter a plenitude, da alma e da vida, mesmo em um ambiente hostil. Assim vamos nos fortalecendo contra o mal, vamos caminhando para a retomada de uma jornada que sempre foi conhecida, aquela que nos coloca novamente diante de Deus.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Fé
Quando já parecia um gesto melancólico,
de um último suspiro,
um sorriso de olhos lacrimejantes,
a derradeira chance,
quando já tinham esquecido,
e já não se podia enxergar;
pela escuridão,
pela descrença,
pela ironia,
pela amargura,
pela secura,
enxugaram-lhe o suor frio.
As mãos tremeram,
unidas quase em desespero,
mas aliviadas.
Porque estiveram ávidas,
e haviam caminhado sós.
Porque pediram em fervor.
e clamaram por toda uma vida.
Mas agora era dia novamente.
Texto e imagem: Cláudio J Gontijo
de um último suspiro,
um sorriso de olhos lacrimejantes,
a derradeira chance,
quando já tinham esquecido,
e já não se podia enxergar;
pela escuridão,
pela descrença,
pela ironia,
pela amargura,
pela secura,
enxugaram-lhe o suor frio.
As mãos tremeram,
unidas quase em desespero,
mas aliviadas.
Porque estiveram ávidas,
e haviam caminhado sós.
Porque pediram em fervor.
e clamaram por toda uma vida.
Mas agora era dia novamente.
Texto e imagem: Cláudio J Gontijo
quarta-feira, 2 de julho de 2014
O Canário chapinha e os espinhos
Não é possível listar todos os atrativos que a natureza nos mostra em sua vastidão. Sabemos que regras apresentam exceções e
que não há limites, dentro dos ecossistemas. As floradas ocorrem em períodos
variados, os frutos chegam em maior ou menor abundância, as ninhadas recebem
mais ou menos ovos, as cores são múltiplas, os cheiros variados.
Não há exatidão no grande bioma terrestre. Existem espécies semelhantes, machos ou fêmeas. Existem, também, uma diversidade tão marcante que não acreditamos que um determinado casal pertence a uma única espécie.
O canário-da-terra (Sicalis flaveola), sumido das matas
mineiras por um período, é um dos exemplos de morfologias distintas em um
casal. A ciência chama de
"dimorfismo sexual". O macho possui coloração amarela viva e a fêmea
apresenta-se em tons pardos, acinzentados.
Estes pequenos pássaros alimentam-se principalmente de
sementes e sua reprodução é feita em locais variados: buracos na madeira oca,
barrancos e, até mesmo, nas casas do joão-de-barro. Neste período a fêmea deposita
quatro ovos e os filhotes, a princípio... pardos, voam em três ou quatro
semanas.
A fêmea de cor parda parece ser de outra espécie quando
comparada ao macho. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG
A imagem, logo abaixo, mostra uma fêmea pousada em um galho
da buganvilia. A sua aparência tranquila não é afetada nem mesmo pelos espinhos
ao seu redor. É mais um fato curioso que nos mostra a natureza. Uma mistura
de sutileza, beleza e perigo. Esta talvez seja uma regra imutável dos
ecossistemas e de toda a existência; a certeza de que a vida uniforme e as
diferenças caminham lado a lado, de que nem sempre os caminhos são previsíveis.
O pássaro e os espinhos. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG
sábado, 28 de junho de 2014
A Coruja e o João-de-Barro
Há algum tempo atrás registrei a imagem de um casal de
João-de-barro. Os dois pássaros haviam construído seu ninho com terra molhada e
capim, para a reprodução; a chamada casa do João-de-barro. A árvore, um Tamboril, não resistiu ao tempo
e já não existe mais.
O casal de João-de-barro. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG |
Mais um período depois e ouvi sons estranhos que vinham
exatamente do ponto onde as aves haviam mantido a sua prole. Eram piados
repetitivos, numa sequência quase hipnótica. Já era noite alta, escura, de lua
crescente. Fui até a árvore, a poucos metros da varanda e foquei a lanterna na
casa de barro. Tive uma surpresa. Na pequena porta de entrada uma outra ave se
mostrava. Não era quem deveria estar ali.
Disparei a máquina, buscando o foco no clarão efetuado pela
lanterna. Ainda surpreso, lembrei-me de que o João-de-barro não costuma
reutilizar o seu ninho. Sua opção natural é pela partilha. Enquanto seus ninhos
resistem às intempéries, podem ser utilizados por outras espécies de pássaros.
Mas o que fazia ali uma Coruja-do-Campo? Ave de rapina, que costuma arquitetar seu
ninho em buracos no chão, por isso são também chamadas de Corujas-buraqueiras.
A figura estava lá, estática, à entrada do ninho. Parecia uma rolha, obstruindo
a porta da casinha de barro.
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Na mesma casa, à noite, a coruja na porta de entrada. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG |
A ave predadora teria invadido o ninho de outra espécie em
busca de pequenos ovos e filhotes ? Ou estaria naquele local para a reprodução
?
Quando lembro-me daquela Coruja em seu estranho ninho, a
partilha é um dos pensamentos que me ocorrem. Nestas várias reflexões, fica
também a vontade de rever amigos distantes. Muitos deles de temperamentos
difusos. Mas de muitas histórias comuns, de trocas, barganhas e alegria.
Personagens de encontros e desencontros, como aqueles pássaros, espécies
diferentes, de hábitos alimentares contrários, mas de histórias afins,
propiciadas pela necessidade de sobrevivência, na grande comunhão
ecossistêmica.
É que a proximidade e a convivência são pilares que vão
solidificando os valores de toda uma existência. Uma vida em comum que modifica
e edifica, que apara as diferenças e promove o crescimento. Uma jornada que se
torna mais rica, para afastar o vazio e as arestas, para promover a vida plena
e verdadeira. A exemplo da Coruja e do João-de-barro. Tão diferentes, mas tão
próximos.
sábado, 21 de junho de 2014
O Socozinho
Na margem de uma lagoa, represa ou rio observa-se uma ave imóvel durante um longo período de tempo. De repente ela avança para a água e captura a sua presa. O Socozinho (Butorides striata) alimenta-se de insetos, moluscos, larvas, peixes, anfíbios e répteis.
O Socozinho à espera do seu alimento. Imagem: Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG |
O pequeno Socó habita sempre as proximidades de regiões onde haja água em maior quantidade. Não é muito fácil aproximar-se dele. Quando a ave percebe alguma aproximação permanece estática como se fosse um toco, até que emite uma espécie de assovio e voa.
Esta espécie constrói seu ninho próximo a um curso d'água, em árvores de médio porte e arbustos nos brejos. Dois ou três ovos de cor esverdeada são depositados, em média. A fêmea cuida do local de nidificação de forma solitária, até que os ovos eclodem em aproximadamente quatro semanas (26 dias). Em mais trinta dias os filhotes deixam o local.
Estas aves distribuem-se por quase todo o Brasil e em outras regiões de clima quente: África, Ásia e Austrália.
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Histórias do sertão 2: Catarina Labouré
Numa parte periférica da cidade mora um casal de idosos. Já viveram muito, mais de sete décadas. Foram tempos cheios de privações, muita labuta. As mãos ficaram grosseiras e a pele curtida pelo sol. Ela teve filhos, trabalhou muito tempo numa carvoaria, e só conseguiu fazer com que um deles sobrevivesse. Não sei muito dele. Ambos perderam seus companheiros do primeiro casamento. Viúvos, conheceram-se e resolveram se unir já sexagenários. Ela vestiu-se de noiva, foi maquiada e levada até a porta da igreja por um carro. Ele vestiu terno, gravata e aparou bem o cabelo. Entraram na igreja decorada, ganharam caixas de cerveja e refrigerantes para a festa, uniram-se em novo matrimônio.
Algum tempo já se passou. Com o dinheiro curto do que recebe, ela conseguiu construir a casa onde moram. Alpendre, banheiro azulejado, quartos pequenos e dignos, uma pequena televisão de plasma, um interfone usado na entrada. Ele vendeu a casa muito simples onde morava, dividiu uma parte do pouco que arrecadou com os filhos da primeira união. É quase certo que utilizou o que sobrou para ajudar na mobília do novo lar.
Eles estão sós nesta pequena casa. Os filhos, poucos, tomaram seu rumo. O casal é feliz. Vivem da aposentadoria do sindicato rural e agradecem pelo que conseguiram. Vivem também da sua devoção profunda aos santos e da fé fortificada.
Há alguns meses atrás Dona Maria foi atropelada enquanto voltava de uma reza. Segundo ela, pelas suas orações, não fraturou um único osso. Apenas o braço continua preso numa tipoia. As dores a incomodam. As articulações que movimentam a clavícula direita demoram para se recompor e ela tem lamentado muito. Reclama por não poder ir, como quer, à igreja. Reclama por não poder varrer, como gosta, a casa. O senhor José a ouve com atenção e respeito, seus olhos revelam compreensão. Ele mesmo tem carregado com dificuldade uma hérnia mal curada. Os exames do posto de saúde já venceram, a cirurgia do SUS não veio e, agora, novos preparatórios precisarão ser feitos.
Um dia destes Dona Maria foi até o seu quarto e me chamou. Mostrou-me a Bíblia bem arranjada e suas várias imagens. Retirou da gaveta um pequeno livro. Era a história de Catarina Labouré; a Santa francesa. Me deu de presente para que eu lesse. Ela não podia fazê-lo, por não ter aprendido. O seu companheiro possui pouca leitura, mas é ele quem lê as inúmeras orações que eles recebem pelo correio, fruto das pequenas contribuições que fazem a algumas instituições.
À Dona Chiquinha.
À Dona Chiquinha.
sábado, 7 de junho de 2014
Educar para preservar
Evoluindo a partir de meados do século passado, a escola nova descentralizou a transmissão de conteúdos e propôs uma nova metodologia, baseada em temas contextualizados e na participação efetiva do aluno no processo de ensino-aprendizagem. O professor deixou de ser, exclusivamente, o detentor do conhecimento, para assumir a figura de mediador e promotor do debate, que se forma em função dos questionamentos lançados. Esta é a realidade estampada nas salas de aula, no momento em que surge a necessidade, inadiável, do aprimoramento da Educação Ambiental.
A sobrevivência dos rios passa pela educação ambiental. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG |
O meio ambiente em degradação, o esgotamento dos recursos naturais, as modificações climáticas, criam a preocupação generalizada com os rumos dos ecossistemas, ao mesmo tempo em que depositam a esperança de transformações benéficas, ancoradas na formação de uma nova geração, mais consciente, crítica e com possibilidades transformadoras.
A Educação Ambiental parece ser uma tarefa ampla e complexa. É responsabilidade de toda a comunidade, não só dos professores. Neste contexto a escola não é uma ilha dentro do processo de ensino-aprendizagem. Os bons exemplos de preservação da fauna e flora, a reciclagem de materiais e a recomposição de áreas degradadas devem vir de todos e, necessariamente, trabalhados com os alunos. As atividades de campo, práticas, a interatividade, as relações interpessoais, são fundamentais para a boa assimilação dos jovens.
Mas, infelizmente, não basta somente uma ação focalizada no ensino escolar. É provável que construiremos pouco, se não experimentarmos uma mudança de postura que alcance os meios de produção e a sociedade como um todo.
O aprendiz maior das escolas não encontra apenas o conteúdo da grade curricular. Atualmente vive mergulhado em um ambiente que lhe proporciona múltiplas informações. Portanto é importante e fundamental que avancemos todos; pais, administradores, professores, terapeutas, operários, na busca pela criação desta nova perspectiva.
As ações se tornarão ainda mais promissoras a partir da obrigatoriedade da disciplina Educação Ambiental no conteúdo programático das escolas e de descontos tributários para as empresas que, comprovadamente, manterem projetos educacionais de meio ambiente.
As ações se tornarão ainda mais promissoras a partir da obrigatoriedade da disciplina Educação Ambiental no conteúdo programático das escolas e de descontos tributários para as empresas que, comprovadamente, manterem projetos educacionais de meio ambiente.