Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O sapo-boi, sapo-cururu, o comedor de insetos

Os anuros são grupos de anfíbios que não possuem calda. Rãs, pererecas, sapos, são os principais exemplos desta classe. Um sapo encontrado também no habitat do cerrado, vivendo geralmente próximo à margem de lagoas, açudes, rios, riachos, é o chamado sapo boi (Rhinella diptycha). Seu aspecto costuma ser repugnante pela pele enrugada, devido às inúmeras glândulas espalhadas. Algumas delas localizadas atrás dos olhos e nas patas traseiras, são denominadas, respectivamente, paratóides e paracnêmicas,  secretando substâncias tóxicas, de aspecto leitoso. A espécie só é capaz de externar estas toxinas quando o seu corpo é comprimido ou pressionado. Substâncias venenosas, elas causam desde reações alérgicas na pele até efeitos neurotóxicos se ingeridos.


A espécie Rhinella diptycha e sua pele enrugada, cheia de glândulas. Visíveis as glândulas paractenóides (bolsas próximas aos olhos). Imagem: Cláudio Gontijo



Mas os representantes desta espécie, e de um modo geral de outras espécies deste gênero, não apresentam qualquer característica agressiva. A toxina é utilizada como meio de defesa contra outros animais como répteis, aves, e alguns tipos de mamíferos. Estes exemplares são gulosos comedores de insetos, saindo à noite para capturar grande quantidade deste alimento. Contribuindo, assim, para o equilíbrio de populações de insetos na cadeia alimentar. 


A glândula paratoide e seus inúmeros poros. Imagem: Cláudio Gontijo



Ao final da região dorsal, localiza-se a cloaca, abertura que libera óvulos e espermatozoides, por fêmeas e machos. Imagem: Cláudio Gontijo.


No período da reprodução o macho "abraça" (amplexo) e pressiona o abdome da fêmea enquanto ela deposita os ovos no meio aquático. Em seguida ele libera os espermatozoides, capazes de fecundar ovos. Todo o processo pode demorar mais de 10 horas. A fecundação é denominada externa. Os embriões darão origem a formas não adultas com calda (girinos) que passarão por metamorfoses (sempre em meio aquático) até chegar a forma adulta.


As patas impulsionam os indivíduos para uma locomoção que os distância quilômetros dos meios aquáticos. Imagem: Cláudio Gontijo





Ovos no meio aquático envolvidos por material gelatinoso. Imagem web





Apos a fecundação dos ovos, eles darão origem aos girinos (formas não adultas destes anfíbios). Imagem web





sábado, 20 de fevereiro de 2016

O galo-da-campina

Nos meses mais úmidos do verão é possível observar na mata ciliar do Rio das Velhas, norte de Minas, caminhando ou saltitando pela vegetação de gramíneas, um belo pássaro com a cabeça e porção inicial do peito (garganta) cobertas com penas vermelhas. As regiões do abdômen e restante do peito possuem a cor branca, em contraste com cor escura/acinzentada das asas e da porção dorsal. Ele é o cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), também conhecido como galo-da-campina. Esta espécie habita a vegetação semi-árida do nordeste e as matas ciliares. Quando a imagem foi feita o pássaro percorria, arisco, a vegetação rasteira dos gramados para buscar o seu alimento predileto, as sementes nos pedúnculos das gramíneas. Nestes períodos, onde ocorre o seu acasalamento e reprodução, alimentam-se também de boa quantidade de insetos e larvas.


O cardeal-do-nordeste e a sua bela plumagem. Imagem: Cláudio Gontijo



Em ciclos regulares de chuvas a sua reprodução pode ocorrer. em média, três vezes ao ano. Nos ninhos, em formato de tigela, construídos com ramos e capim, secos, entrelaçados, são depositados até três ovos. Em duas semanas os ovos eclodem, após mais quinze ou vinte dias estes filhotes já são capazes de voar.


O ninho de uma das várias espécies de cardeais. Imagem web




Não há dimorfismo sexual, ou seja, diferenças marcantes entre o macho e a fêmea. No período reprodutivo o casal permanece sempre juntos. O macho determinará o território para que a fêmea construa juntamente com ele, o ninho e realize a postura dos ovos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Aranha caranguejeira

As aranhas pertencem a classe dos aracnídeos que, por sua vez, são representantes dos animais artrópodes, com patas (apêndices articulados). Os insetos também são animais deste grupo, embora se diferenciem por possuir três pares de patas e, geralmente, não serem predadores peçonhentos.


Uma caranguejeira no ambiente urbano (Sete Lagoas). Enquanto os insetos possuem o tórax diferenciado da cabeça, os aracnídeos possuem um cefalotórax (cabeça e tórax fundidos) e o abdome. Imagem Cláudio Gontijo

Ao manusear uma máquina roçadeira em um gramado, numa região rural, observei um exemplar de porte médio de uma caranguejeira. Provavelmente ela é uma espécie denominada Lasiodora sp. Pode atingir mais de 25 cm de envergadura. Embora tenham aspecto ameaçador, as caranguejeiras não produzem peçonha que contenham toxinas perigosas ao homem, mas a sua picada costuma ser dolorosa pelo tamanho de suas quelíceras (primeiro par de apêndices, localizado junto ao aparelho bucal).


Os aracnídeos possuem quatro pares de patas. O par dianteiro, próximo ao parelho bucal, são os pedipalpos (não são patas propriamente ditas). Junto aos pedipalpos estão as quelíceras. Imagem: Cláudio Gontijo/Lasssance-MG



Esta espécie, geralmente,não é agressiva. Pode viver, em média, até 20 anos, quando fêmea. Os machos vivem pouco mais de um terço deste período. A maturidade sexual chega em torno dos três anos de idade. Para o acasalamento, o macho possui pedipalpos (segundo par de apêndices) adaptados a inocular o esperma na fêmea. Durante o ato sexual ele costuma imobilizar a fêmea e fugir ao final, já que o apetite destas espécies é grande e elas desenvolvem o canibalismo.


Inúmeros ovos junto ao corpo de uma espécie de aranha caranguejeira. Imagem web


A fêmea, após a cópula, é capaz de produzir até 400 ovos que darão origem a inúmeros filhotes. Estes abandonam logo as proximidades da mãe e saem para uma vida independente.


Ao ser incomodada a caranguejeira assume uma posição de defesa, com as patas superiores em elevação. Imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG


O corpo das caranguejeiras apresenta inúmera cerdas que revestem principalmente o abdome e as patas. Ao ser molestada ou atacada, esta aranha ergue as patas dianteiras e as esfrega ao longo do corpo, emitindo boa quantidade destas cerdas (pelos) que costumam ser urticantes. Estas cerdas podem causar irritações alérgicas em determinadas pessoas. Este constitui o maior risco destas aranhas que apenas parecem pequenos monstros, mas, na verdade, contribuem para o meio ambiente e a cadeia alimentar. Elas alimentam-se de insetos (gafanhotos, baratas), pequenos anfíbios e répteis (lagartos). 


A caranguejeira a as suas cerdas, visíveis. Imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG




Existem espécies de maior porte que podem atingir mais de 30 cm de tamanho, como a Theraphosa blondi, aranhas caranguejeiras que se alimentam de pássaros. 

As aranhas caranguejeiras ocorrem em quase todas as regiões da terra, à exceção dos polos e geleiras. Existem ao todo cerca de 900 espécies, porém apenas pouco mais de 30 são conhecidas e catalogadas.

Muitas destas caranguejeiras vivem em tocas que chegam a um metro de profundidade. Provavelmente esta caranguejeira que avistei saiu da sua toca com a vibração da máquina ou com algumas gotas de chuva que deixaram o seu habitat inadequado.



Junto aos pedipalpos, o aparelho bucal (que geralmente é sugador). Imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG





sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Coragem






Muitos construíram convicções que julgavam absolutas. Assim  elas foram executadas como um sinônimo de retidão. Tradições, ditos populares, provérbios, preconceitos, heranças, ditames, ritos, costumes, que alentaram e, também, escravizaram.

Mas ao longo de um trajeto imprevisível, ao longo de uma existência que até se apresentou disposta a ferir em ferro e fogo, ao longo de escolhas que mostraram soluções dolorosas, feridas nunca cicatrizadas; inúmeros ideais, propósitos, projetos, foram respeitosamente dispostos em caixas de fundo sem fim.

Homens que não foram compreendidos, não foram aceitos. Que receberam com indiferença as suas idéias. Estes mesmos homens tiveram a coragem para pisar em outras estradas, tiveram a humildade para pensar, e repensar, e foram ajustando-se a uma existência tantas vezes impiedosa. Eles foram sábios o suficiente para enterrar boa parte dos seus erros e guardar somente o necessário. Passaram a viver com aquilo que lhes era indispensável, passaram a dosar suas necessidades fúteis para que fosse possível manusear os momentos de simplicidade.

Estes homens salvaram a sua vida. Puderam receber a graça de uma existência longa. Puderam ter o privilégio de experimentar algo Divino. Foram felizes, tocaram a dignidade, em uma caminhada verdadeira e lícita.

E nem todas as suas velharias foram atiradas ao fogo, algumas delas, foram sim, armazenadas em embalagens grosseiras que nunca são notadas, por não apresentarem qualquer beleza estética. Mas nestes álbuns de referências e antigas imagens, constavam todo um patrimônio vivido. Vivido em momentos ásperos, trabalhosos, onde não faltaram a paciência e a fé.

Ao final, ainda que calejados, ressurgiram para muitas outras jornadas. Aquelas que nunca foram moldadas ou imaginadas pelos absolutos. Aquelas, rejeitadas pela auto suficiência. A principal delas, em um tempo longínquo, foi crucificada pela hipocrisia.

















"...e quem perder a sua vida por amor, acha-la-á".  Mateus 16, 25.














Texto e imagem: Cláudio J Gontijo