Com a despensa vazia,
Maria desceu a ladeira; correndo, gritando.
Tinha as sandálias empoeiradas e as unhas tortas.
A fé compunha os olhos úmidos .
Erguia as mãos e agradecia.
O Padre a ouviu e ela foi com Deus.
Desencorajada, ignorada, simplória.
Não pôde encontrar quem a olhasse de frente.
E como não conhecia as letras na folha branca,
teve a notícia, não se sabe como.
Maria era só
louvor.
Agora não tinha
fome, só gratidão.
Esqueceu os gemidos daquela única companheira,
as suas tristezas no câncer, em um leito do quarto público.
Ela a tinha de
volta, e curada; em milagre, corpo e alma.
Carregava nos pensamentos a imagem turva de todos os santos,
e os joelhos dormentes.
Maria das promessas,
Maria das novenas,
Maria das dores,
Maria das súplicas,
Maria de ninguém,
Maria sem registro,
Maria de nada.
Maria de Deus.
Esta que conheci, morava em uma rua da minha infância. Ao contrário do texto, Maria não agradeceu por sua companheira, ela própria morreu de câncer. Vivia em um certo abandono, tinha muita fé, falava muito alto e portava uma alegria impregnada na alma. Dedico este texto a esta que conheci. Nunca mais a verei, mas não vou esquecê-la.
O nome é fictício.
Imagem e texto: Cláudio J Gontijo
2 comentários:
MEU AMIGO, MUITO COMOVENTE, BONITO E SINGELO COMO A MARIA, PARABENS PELA BELEZA DA COMPOSIÇÃO!
Obrigado, minha amiga. Que Deus nos ilumine nesta caminhada que só nos faz crescer.
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