Toda a lida trabalhosa de suor e sangue,
todos as conversas convenientes repetidas em qualquer momento, sem hora,
todos as nossas inúmeras preces de pouca demora,
nossos jejuns de quase nada,
agora são pálidos e doentios demais,
porque só os fizemos com um único olhar, sobre nós mesmos.
E se fomos exemplos, desenvoltos, altivos em prosperidade,
agora, pobres,
permanecemos por longos períodos em espera,
do abraço apertado que quase sempre ignoramos,
e até ironizamos.
Já aguardamos o sorriso largo que nunca esboçamos.
Esperamos afoitos em ante salas, em consultórios.
Nossas posses já não nos servem.
Nossos desejos anunciados são, agora, clamores pálidos.
Tentamos afastar a indiferença,
a visão que se turvou para a miséria,
para as enfermidades físicas que nunca foram nossas.
Caminhamos à espera de qualquer paisagem ou alento,
que nos devolva as paixões,
todas aquelas que deixamos germinar em terrenos sofisticados.
Queremos a nós mesmos, mais ainda, a verdade do tempo,
a paz que nunca consideramos.
Esperamos pela esperança que nem nos fazia falta.
E queremos misericórdia.
E queremos mais alguns anos,
algumas chances, ainda que não sejam muitas.
No final estaremos mais marcados pelas rugas,
sulcos profundos,
gestos mais fecundos.
No final seremos mais inteiros e presentes,
seremos o que não cultivamos,
com mais piedade,
com menos vaidade.
Em resumo das horas,
nos veremos na ponte que nos distancia do que realmente nunca nos fez falta.
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