Hoje pude perceber que as transformações nos deixam distantes de valores que um dia julgamos cristalizados.Com o lento final da juventude, vamos assistindo a partida de pessoas, vamos partindo de muitos lugares. E é doloroso. Assim como uma árvore vai se mostrando pouco resistente às intempéries, órgãos e membros vão se revelando mais e mais frágeis.
Será o momento de nos prepararmos para a ausência de conversas, abraços, afagos, resmungos, palavrões, pulsações. Assim riachos vão secar, pássaros não serão mais ouvidos, o silêncio encontrado em determinados lugares deixará de existir. E nada será exatamente como já registramos em nossa memória um dia.
Então novas presenças virão para ocupar este vácuo. Porque o vazio não é compatível com a criação. E este dinamismo não é cruel como um castigo. Não há tantos pecados a serem reparados. Há, sim, uma misericórdia infinita e desejosa de plenitude.
O passar dos anos vai nos tirando o que nos afeiçoou, mas vai nos devolvendo uma maturidade luminosa. Vamos aprendendo a conviver com a memória viva; de gratidão, de perdão, de reconhecimento, de louvor, de fé.
Tudo é reciclado, reaproveitado, para novas existências. E não há fim. Como a própria natureza que se renova.
Imagem: Cláudio J Gontijo
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