Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Para adormecer

 






Quando o sono vem lá, 

distante,

relutante,

coloco-me junto aos outros,

tantos outros, em pedidos de oração.

Vou visualizando um e todos.

Desaparece a prece,

adormeço.

Acordo, continuo,

adormeço.

Nas diversas e múltiplas vezes em que de mim esqueço,

devo mesmo acalentar aqueles que, há tempos,

esqueceram-se de si mesmos.

E, assim, vou embalando.

E permaneço.

Nada me é absoluto,

é mistério, é vago.

Como o sono que vem e vai,

vai e vem.

Como um balanço,

bem suspenço,

livre,

sem tropeço.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Esperança







Haverá um instante em nossos pesares,

em que os joelhos já estarão dormentes,

marcados,

por súplicas em variadas horas.

Então haveremos de encontrar mãos sacramentadas,

misericordiosas,

piedosas.

Caminharemos amparados pela própria vida.

 E trôpegos, ávidos,

saberemos que a cruz que carregamos na aridez do tempo,

estava mesmo na esperança.





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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Misericórdia, não sacrifício





O Jesus das curas é o Senhor que ama como primícia. 

Mas é o Cristo que afasta o formalismo capaz de desfigurar o amor misericordioso.

É através da misericórdia que realizamos verdadeiras orações, que efetuamos os deveres primordiais e essenciais.

O amor de Cristo é a própria misericórdia na sua plenitude. 

A falta de piedade empobrece os ritos, destrói a fraternidade. Toda a prática impessoal é farisaísmo e incorre na segregação, na indiferença. 

Não há crescimento sem empatia, não há elevação sem tolerância, não há comunhão sem ausência de preconceito.

"Misericórdia quero, e não sacrifícios. Pois não vim resgatar justos e sim pecadores". Mateus 9:13

"Deus é tudo em todos". São Paulo 


domingo, 20 de agosto de 2023

Sem a chuva

 












É o chão que se desenha com o mato seco,

 por tudo o que carece de água.

E no  tempo paciente,

a raiz é  insistente.

Há que se ter  mais coragem,

porque a esperança já vive na pele curtida,

sentida,

suportando o sol que queima e noites frias.

Frio que corta; é navalha.

Tudo é pardo.

Então, à tarde, antes que venha mesmo o breu, 

pia o curiango, ouve-se  longe os latidos, 

e na escuridão que chega, a vida vem de novo. 

Ainda que trôpega,

amanhece  com o dia,

deixa se corar à luz espalhada pelo chão, 

no chão de poucas sombras.

Por hora, nada necessita ser retocado.

É que no ciclo, de voltas conhecidas, de momentos marcados, 

dormentes,

o vai e vem das horas é que compoe esta lida.

Não a das caixas com fitas, de papel colorido.

Uma existência assim, que, rachando a terra, 

devolve novos brotos.


quinta-feira, 6 de julho de 2023

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Cruz

 Publiquei esta pequena reflexão há oito anos atrás. Deixo-a aqui novamente.



"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me". Lucas 9:23

 





Ovos no ninho, em uma laranjeira.  Imagem: Cláudio Gontijo






A fé e a caridade podem se tornar inatingíveis, em um caminho penoso, sob a perspectiva do egoismo. A cruz dos nossos compromissos e responsabilidades tende a ser lapidada e diminuída. Sem o seu peso e porte, necessários ao crescimento espiritual, uma falsa leveza nos conduz  a escolhas angustiantes. 


Carregar a cruz não significa optar por uma vida martirizante, ao contrário, ela nos conduz à possibilidade do perdão, da conversão, da oração, do amor verdadeiro. Este não é o caminho da alienação, antes, é a jornada para uma vida longa de paz e alegria. A verdadeira paz, a alegria plena.





"Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo". João 14:27