Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Álbum




Imagens,

pardas imagens, 

felizes paragens. 

Doloroso é saber que estes, 

que nem veremos, 

que nunca tivemos;

hoje nos acalentam, 

teimosos que somos. 

Porque ninguém nos dará permissão, 

ainda que por uma ponta do tempo, 

a chance de caminhar por aqueles suspiros e risos. 

É quase certo que os queríamos eternos,

ternos,

por dias e dias, 

fraternos.

 Mas agora muitos não se importam.

Os rostos pareciam mais limpos, e, hoje, 

nem os querem mais. 

Dançávamos nestes acordes.  

Ainda podemos reproduzir. 

Mas ninguém se lembra deles.

Eletrônicos recursos,

mostram agora com mais nitidez;

o simples e o simplório.

E hoje, polidamente, muitas vezes dispensamos,

quando machuca o que pensamos.

Mas esta distância é o que gostaríamos de encurtar.

Foi feita mesmo no papel de brilho fosco, 

espalhada pelo forro de pano tosco,

comum,

para que pudéssemos vivê-la de novo.



Ao Xará.



quarta-feira, 20 de março de 2024

A assustadora tarântula

 Embora o título possa sugerir estas espécies de aracnídeos (aranhas) não apresentam grandes riscos de acidentes após sua picada. Elas não são capazes de produzir peçonha com capacidade tóxica. No máximo a sua picada pode produzir dor no local, 

Vivem em habitat variado, geralmente de clima tropical, nas Americas, Europa, Oriente Médio, Ásia. Conseguem sobreviver por cerca de 7 a 8 anos. Muitas pessoas as criam como uma espécie de animal de estimação, nesse caso, em cativeiro, podem viver pouco mais de duas décadas. 

A sua forma de defesa contra os predadores são seus pêlos urticantes que cobrem todo o corpo. Estes pelos são espalhados a paritr de suas patas ,do abdomem, causando irritações. Quando manuaseadas podem causar estas irritações nas nossas vias respiratorias e na pele.





                Os pelos urticantes são visíveis em todo o corpo da aranha. Imagem: Cláudio Gontijo



A tarãntula ou caranquejeira  movimenta-se pouco, permancendo em tocas com cerca de 80 cm de profundidade. De lá saem para capturar presas que são devoradas de acordo com o tamanho destes aracnídeos. Espécies maiores (podem atingir 25/30 cm de envergadura) são capazes de capturar pequenos pássaros, anfíbios, lagartos. São também canibais. 



Imagem: web



Atingem a maturidade sexual em 4 a 5 anos de vida em média. Os machos modificam seus pedipalpos (primeiro par de apêndices - patas - localizados próximos à região cefálica) e realizam a cópula injetando os espermatozóides. Neste ato reprodutivo o macho prende a fêmea com garras (unhas) presentes nas suas patas (imagem web). A fêmea armazena os espermatozóides em órgãos especiais até produzir os ovos (150 unidades aproximadamente) e os depositam em um saco de seda. Em 45 dias estes ovos eclodem e os filhotes, já totalmente formados, dispersam, não recebendo qualquer cuidado da fêmea.





Uma tarântula movimentando-se na grama molhada, provavelmente um macho que deixou a toca pela umidade do tempo chuvoso. Imagem: Cláudio Gontijo



Os machos morrem logo após a cópula. Muitas vezes são devorados pela própria fêmea em seus hábitos canibais. Por este fator estes machos procuram, após o ato sexual, distanciarem-se rápidamente. No entanto irão morrer alguns meses depois.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Para adormecer

 






Quando o sono vem lá, 

distante,

relutante,

coloco-me junto aos outros,

tantos outros, em pedidos de oração.

Vou visualizando um e todos.

Desaparece a prece,

adormeço.

Acordo, continuo,

adormeço.

Nas diversas e múltiplas vezes em que de mim esqueço,

devo mesmo acalentar aqueles que, há tempos,

esqueceram-se de si mesmos.

E, assim, vou embalando.

E permaneço.

Nada me é absoluto,

é mistério, é vago.

Como o sono que vem e vai,

vai e vem.

Como um balanço,

bem suspenço,

livre,

sem tropeço.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Esperança







Haverá um instante em nossos pesares,

em que os joelhos já estarão dormentes,

marcados,

por súplicas em variadas horas.

Então haveremos de encontrar mãos sacramentadas,

misericordiosas,

piedosas.

Caminharemos amparados pela própria vida.

 E trôpegos, ávidos,

saberemos que a cruz que carregamos na aridez do tempo,

estava mesmo na esperança.





.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Misericórdia, não sacrifício





O Jesus das curas é o Senhor que ama como primícia. 

Mas é o Cristo que afasta o formalismo capaz de desfigurar o amor misericordioso.

É através da misericórdia que realizamos verdadeiras orações, que efetuamos os deveres primordiais e essenciais.

O amor de Cristo é a própria misericórdia na sua plenitude. 

A falta de piedade empobrece os ritos, destrói a fraternidade. Toda a prática impessoal é farisaísmo e incorre na segregação, na indiferença. 

Não há crescimento sem empatia, não há elevação sem tolerância, não há comunhão sem ausência de preconceito.

"Misericórdia quero, e não sacrifícios. Pois não vim resgatar justos e sim pecadores". Mateus 9:13

"Deus é tudo em todos". São Paulo 


domingo, 20 de agosto de 2023

Sem a chuva

 












É o chão que se desenha com o mato seco,

 por tudo o que carece de água.

E no  tempo paciente,

a raiz é  insistente.

Há que se ter  mais coragem,

porque a esperança já vive na pele curtida,

sentida,

suportando o sol que queima e noites frias.

Frio que corta; é navalha.

Tudo é pardo.

Então, à tarde, antes que venha mesmo o breu, 

pia o curiango, ouve-se  longe os latidos, 

e na escuridão que chega, a vida vem de novo. 

Ainda que trôpega,

amanhece  com o dia,

deixa se corar à luz espalhada pelo chão, 

no chão de poucas sombras.

Por hora, nada necessita ser retocado.

É que no ciclo, de voltas conhecidas, de momentos marcados, 

dormentes,

o vai e vem das horas é que compoe esta lida.

Não a das caixas com fitas, de papel colorido.

Uma existência assim, que, rachando a terra, 

devolve novos brotos.


quinta-feira, 6 de julho de 2023