Já nem é tão tarde.
Ainda há tempo para as idéias que não sumiram.
Mas agora, não cabe o pessimismo,
amargo.
Também já está gasto, esfolado, a utopia otimista.
O que fica é um realismo incômodo.
Ele se disfarça, simula indiferença.
Mas a indiferença é falsa.
E o que esteve estampado, agora vem,
e constrange.
Falam mal dele.
Indiferença de gosto diluído, hipócrita.
Mostra, mesmo, uma multidão que foge,
esconde-se atrás de imagens felizes.
Vem o tempo.
E com o tempo, mais e mais pessoas saem dos espelhos,
em verdades cruas, doídas,
das fotos sem olhos, com óculos escuros,
da gratidão colorida, moída,
gratidão em telas virtuais.
Com o tempo vão tirar o medo do que há atrás dos retoques.
Imagem incômoda, penetrante, vive nos momentos de silêncio profundo.
Já não pode ser evitada.
É o que somos em carne viva.
É dor da qual se desviam,
mas que estaciona-se diante de nós.
Então, fará bem apalpar o que claramente somos.
Circularão pessoas menos apressadas,
mais sóbrias,
menos falantes,
mais ouvintes.
Menos entorpecidas,
mais nítidas.