Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Véu negro




Quando o véu negro cai sobre o nosso olhar,
e nem sabemos,
se vamos experimentar a chuva,
ou ter a grama sob nossos pés,
ou se poderemos continuar,
iremos rir de nós mesmos,
da jornada confusa,
difusa,
quando parecemos pequeninos,
meninos,
no meio do caminho.


E então,
saberemos da sede,
que nem notamos,
e que carregamos,
quando vivemos,
abraçamos,
tocamos.

Respiramos.
Ávidos,
na busca que construímos,
sem bússola

sem fim,
pela  vasta,
bela,

existência,
assim.






sábado, 15 de outubro de 2016

Cruz











Aqueles que riscam a terra, arrastam a sua cruz.
Buscam ser livres,
da doença,
da mágoa,
da assombrosa maldade,
dos desafetos de gosto amargo e rançoso,
das fragilidades que separaram por orgulho.
Grotesco poste em ombros dormentes e prontos para a agonia,
onde agora não se tem qualquer alento,
onde a qualquer momento,
virá a dor que dilacera.
Ainda assim, antes da tortura,
repudiam a dúvida,
a mentira,
a miséria,
porque desejam, em meio ao sangue e água,
a liberdade que redime.
Antes de todo o sofrimento,
livraram-se de imagens que os cortaria em ilusão,
que levaria à escravidão.
Ninguém carregará por eles a madeira tosca e seca,
ninguém limpará suas feridas,
ninguém sentirá a mesma agonia,
ninguém delimitará o caminho traçado pelo rastro sinuoso,
ninguém gemerá por eles.
Só esta jornada é que os elevará,
e conduzirá à leveza,
mostrando o que nunca seria revelado,
transformando o que foi abençoado.