Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Embrulhos do tempo

Em fevereiro do ano passado escrevi este poema, ou uma reflexão, como puder ser aceito. 



"Entre aqueles que vão percorrendo o caminho,
alguns transportam, embrulhado em papel pardo, as suas mágoas remoídas e encardidas.
São rancores que não puderam ser deglutidos, digeridos, diluídos.
Então são mascados, revividos, repassados, em pequenos pensamentos, em minúsculos acontecimentos, de espíritos miseráveis.
Estes grossos pacotes estão amarrados em barbantes de pouca fé e de descrença.
Ainda que não haja, de pronto, o maior dos remédios,
uma receita preciosa também não virá.
E para que estes pacotes não permaneçam lacrados,
o tempo, e só o tempo, vai desgastando-os,
desbotando o seu conteúdo.
Enganos, equívocos, vão sendo escavados,
como em duras e teimosas pedras.
Até que se percam ao longo da estrada.
Alguns destes corações irão livres,
outros permanecerão quase inertes e embrutecidos".

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