Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Palavras





Muitas palavras  estão guardadas,
armazenadas e bem arrumadas,
em caixas de papelão,
em estojos de marfim,
em bolsas de múltiplos adornos,
em embalagens de papel de seda,
em embornais de couro cru,
nos cofres de aço,
nas linhas tecidas e bem amarradas
do corpo e da alma.
Se foram ditas, nem todos souberam,
alguns ouviram e maldisseram,
outros silenciaram,
outros ignoraram.
E aconteceu que também idolatraram,
emocionaram.
Porque foram malditas,
engolidas e escondidas,
contidas, distorcidas,
dilaceradas e profanadas,
Cantadas,
recitadas,
talhadas e arranjadas.
E, assim, costuradas ou estranguladas,
perderam-se quando rasgaram como lâminas,
enfeitaram na delicadeza,
perfuraram quando foram pontiagudas e intolerantes,
revitalizaram em gestos de misericórdia,
seduziram em paixões sem tamanho.
Quando vieram piedosas,
acalentaram o choro incontido,
transformaram o chão batido,
ampararam o corpo combalido.



domingo, 12 de julho de 2015

Água e vida

A água é um bem precioso. Se analisarmos a sua função de importância básica e fundamental para a manutenção da vida em todos os organismos vivos, podemos dizer que esta substância tem um valor que não se pode medir. Basta que nos lembremos de que mais de 65% do organismo humano é constituído por água, que ela está presente no líquido intersticial entre as inúmeras células e compõe a parte líquida do seu interior. Os vegetais apresentam mais de 75% deste líquido em sua constituição. Tomate, melancia, pepino, melão, laranja, como exemplos, apresentam mais de 90% de água em sua formação estrutural.  

Somente em nosso corpo a água:
- é veiculo para a manutenção da temperatura corporal.
- elimina todo o material orgânico indesejável através da excreção.
- forma fluídos indispensáveis como: sangue, suor, leite materno, lágrima, urina.
- é campo para inúmeras reações químicas metabólicas que ocorrem em nosso organismo para a manutenção da vida.
- é a via primordial para que ocorra a fecundação. 

Infelizmente a superfície terrestre possui apenas cerca de 2% de água doce em condições de servir os organismos vivos. A maior parte deste volume está congelada nas geleiras e em grandes profundidades subterrâneas da crosta terrestre. Temos, então, menos de 0,5% a ser utilizado.


É preciso considerar que o aquecimento da terra em face ao acúmulo de gases poluentes na atmosfera, produzidos pela indústria e veículos automotores principalmente, está alterando também a temperatura média dos oceanos. Este fator provoca modificações significativas no clima com períodos de redução drástica no índice pluviométrico em determinadas regiões. Quando a época de estiagem termina, a água trazida pelas chuvas não está sendo devidamente incorporada ao solo pois boa parte da vegetação foi retirada e já não há raízes suficientes para retê-la. A evaporação e a infiltração da água para partes mais profundas da crosta terrestre é uma realidade cada vez mais notável.



O leito seco de um córrego. Ribeirão São Gonçalo/Lassance-MG/Imagens: Cláudio Gontijo




Não queremos que este fenômeno continue o seu curso. Podemos fazer parte de um esforço conjunto para a preservação das nossas nascentes e rios. Precisamos evitar o corte indiscriminado de árvores. Esta ação torna-se cada vez mais indispensável e urgente, em face à desertificação crescente do planeta, da região onde moramos, enfim, de todas as paisagens ricas que outrora conhecemos.

Precisamos utilizar a Educação Ambiental para formar uma nova geração mais bem informada, consciente e ativa. Precisamos, cada vez mais, fazer o uso racional da água. Precisamos formar exemplos, sermos exemplo, para um futuro mais promissor. Para que a água continue a promover a vida, em todas as suas formas.

O sertão norte mineiro vive um momento preocupante e triste. Não chove regularmente a três anos, Os cursos d'água estão com seu volume aquífero reduzido a 1/3 da sua capacidade, outros já estão secos (como mostra a figura acima). Cisternas perfuradas pelos moradores a mais de 20 anos, sempre muito eficientes, estão secando uma a uma. Não é mais concebível que o cerrado possa perder mais vegetação. É preciso atenção em relação às florestas artificiais de eucalipto que transformam a paisagem natural, após o corte, em uma área semi desértica, pobre em nutrientes. Vale a pena o alto ganho do produtor com a madeira endereçada à produção de carvão e postes, ao custo da degradação profunda que a sua propriedade certamente irá sofrer? Quanto tempo estas áreas levarão para serem recuperadas? A que custo será possível recuperá-las ?







Esta é a paisagem que queremos. Imagens: Cláudio Gontijo/Lassance-MG