Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Embrulhos do tempo











Entre aqueles que vão percorrendo o caminho,
alguns transportam, embrulhado em papel pardo, as suas mágoas remoídas e encardidas.
São rancores que não puderam ser deglutidos, digeridos, diluídos.
Então são mascados, revividos, repassados, em pequenos pensamentos, em minúsculos acontecimentos, de espíritos miseráveis.
Estes grossos pacotes estão amarrados em barbantes de pouca fé e de descrença.
Ainda que não haja, de pronto, o maior dos remédios,
uma receita preciosa também não virá.
E para que estes pacotes não permaneçam lacrados,
o tempo, e só o tempo, vai desgastando-os,
desbotando o seu conteúdo.
Enganos, equívocos, vão sendo escavados,
como em duras e teimosas pedras.
Até que se percam ao longo da estrada.
Alguns destes corações irão livres,
outros permanecerão quase inertes e embrutecidos.




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Cruz

A leveza da Lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta). Imagem: Cláudio Gontijo




"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me". Lucas 9:23.



A fé e a caridade podem se tornar inatingíveis, em um caminho penoso, sob a perspectiva do egoismo. A cruz dos nossos compromissos e responsabilidades tende a ser lapidada e diminuída. Sem o seu peso e porte, necessários ao crescimento espiritual, uma falsa leveza nos conduz  a escolhas angustiantes. 

Carregar a cruz não significa optar por uma vida martirizante, ao contrário, ela nos conduz à possibilidade do perdão, da conversão, da oração, do amor verdadeiro. Este não é o caminho da alienação, antes, é a jornada para uma vida longa de paz e alegria. A verdadeira paz, a alegria plena.





"Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo". João 14:27


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Ipê-rosa, maravilha no sertão

De julho a outubro é comum observar que a paisagem dura e parda do sertão mostra manchas roxas e róseas junto à sequidão. São os inúmeros Ipês que crescem em meio à mata dos capões, nos campos de pastagens, no cerrado. Neste período é inverno nas regiões de clima tropical, no centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. A estiagem provoca a queda de quase todas as folhas desta espécie (Tabebuia impetiginosa) e nos galhos brotam a floração rósea ou arroxeada, com muitas inflorescências (locais onde se agrupam as flores). 






As flores de um Ipê-rosa ainda jovem. Imagens: Cláudio/Cláudia Gontijo/Lassance-MG






As flores produzem vagens (frutificação) que, por sua vez, liberam várias sementes aladas. Estas são levadas pelo vento espalhando-se ao longo das matas, dos campos. 
Estes vegetais apresentam uma madeira muito resistente e de relativo valor comercial, por este motivo estas espécies já apresentam risco de extinção.


As vagens que produzirão as sementes. Imagem: Mariana Lorenzo







As sementes apresentam películas que as tornam aladas. Imagem: umasementepordia.blogspot.com



















O Ipê-rosa atinge uma altura que varia de 8 a 20 metros, em média. A sua casca possui valor medicinal, sendo utilizada como cicatrizante e em determinadas doenças de pele. Os Ipês constituem uma importante opção para o paisagismo urbano e para a recuperação de áreas degradadas, em função de seu rápido crescimento e de suas raízes serem pouco agressivas. 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Macaúba, uma das palmeiras do cerrado.

Um grupo de palmeiras. Imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG



Ao entardecer, a silhueta comprida da palmeira confunde-se com a paisagem rústica, cor de terra, do sertão. Uma, duas, várias, equilibram-se no horizonte e, às vezes tortas, parecem estar tombando no solo. Ao longo do extenso território brasileiro muitos nomes são popularmente próprios desta espécie, denominada Acrocomia aculeata; macaúba, coco-de-espinho,bocaiuva. 




A silhueta da macaúba no cerrado. Imagem: Cláudio Gontijo/Lassance-MG





Este vegetal cresce até mesmo em meio aos climas com baixo índice de chuvas, a suas sementes são capazes de resistir à seca. A macaúba pode alcançar uma altura que varia entre 20 e 25 metros. Possui espinhos pontiagudos e longos. Já em torno dos seus três ou quatro anos de idade ela já apresenta a capacidade de produzir os frutos cuja casca (epicarpo) possui cor castanho-amarela e o seu interior a coloração amarelada. Estes frutos são muito importantes na cadeia alimentar dos ecossistemas, pois são fonte de alimento para araras, capivaras, saguis, cotias e outras espécies animais.


A parte externa do fruto. Imagem web




A figura à direita mostra a parte interna do fruto. Imagem web




Pesquisadores brasileiros descobriram, ao longo dos anos, inúmeros benefícios que podem ser proporcionados por esta palmeira. A polpa do fruto (mesocarpo) é matéria prima para a produção de uma farinha rica em betacaroteno e vitamina A, muito importante para a visão e para o sistema imunológico. A sua semente propriamente dita (endosperma) produz um óleo de alto valor proteico, utilizado em bolos e tortas.

A macaúba pode se tornar uma das mais importantes alternativas para o cultivo sustentável visando a produção de biocombustíveis. O seu óleo vegetal refinado dá origem ao biodiesel e ao bioquerosene.

Infelizmente o desmatamento  e as queimadas destruíram boa parte destas palmeiras, principalmente no estado de Minas Gerais. Vai se tornando difícil avistar um grupo destes vegetais, nativos, na paisagem do cerrado.