Imagens: Garça-branca-grande (Ardea alba), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)/Cláudio Gontijo

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Bem-te-vi


Logo pela manhã um dos primeiros cantos ouvidos é o do Bem-te-vi. Eles se adaptam bem ao ambiente urbano, talvez devido à sua alimentação variada. Podem ingerir com facilidade um cardápio diversificado: frutas (mamão, laranja, banana), muitos tipos de insetos, larvas (minhocas), pequenos vertebrados (lagartos,cobras) e até mesmo ovos de outros pássaros. Vivem também nos mais diferentes lugares: margem de cursos d'água, na vegetação dos campos, em áreas de cultivo e matas.





O Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) em pose especial. Imagem: Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG





Embora possam atacar ninhos de outros pássaros, eles são valentes e não são tolerantes com outras espécies nos locais onde estabelecem seus hábitos alimentares e de reprodução. É possível observar suas investidas contra gaviões e outras aves de rapina (predadoras).





O Bem-te-vi pousa nos mais diversos lugares. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG





É no verão que realiza seu processo de reprodução. Coleta capim e o entrelaça a galhos de pequeno porte, em partes mais protegidas e altas das árvores. Podem utilizar eventualmente locais ocos em rochas e troncos. A fêmea realiza a postura de três a quatro ovos, em média, que eclodem em duas semanas. Macho e fêmea se revesam no cuidado com o ninho. Nestas áreas não costumam ser muito hospitaleiros.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Boa Noite, Bom Dia.

Hoje pude perceber que as transformações nos deixam distantes de valores que um dia julgamos cristalizados.Com o lento final da juventude, vamos assistindo a partida de pessoas, vamos partindo de muitos lugares. E é doloroso. Assim como uma árvore vai se mostrando pouco resistente às intempéries, órgãos e membros vão se revelando mais e mais frágeis.


Será o momento de nos prepararmos para a ausência de conversas, abraços, afagos, resmungos, palavrões, pulsações. Assim riachos vão secar, pássaros não serão mais ouvidos, o silêncio encontrado em determinados lugares deixará de existir. E nada será exatamente como já registramos em nossa memória um dia.








Então novas presenças virão para ocupar este vácuo. Porque o vazio não é compatível com a criação. E este dinamismo não é cruel como um castigo. Não há tantos pecados a serem reparados. Há, sim, uma misericórdia infinita e desejosa de plenitude. 


O passar dos anos vai nos tirando o que nos afeiçoou, mas vai nos devolvendo uma maturidade luminosa. Vamos aprendendo a conviver com a memória viva; de gratidão, de perdão, de reconhecimento, de louvor, de fé.


Tudo é reciclado, reaproveitado, para novas existências. E não há fim. Como a própria natureza que se renova.





Imagem: Cláudio J Gontijo




domingo, 25 de agosto de 2013

O Voo das Aves

A evolução animal determinou um certo grau de parentesco entre répteis e aves. As duras escamas e placas ósseas de um dinossauro podem ter se transformado, ao longo de milhões de anos, em leves e resistentes penas como cobertura para a pele. Um passo à frente, que deu às aves a capacidade de se locomoverem por longas distâncias, vencendo as más condições de vida de uma determinada região ao migrarem para outra mais favorável. Aqueles pesados animais pré-históricos foram eliminados em regiões inóspitas, as aves buscaram sobreviver em locais mais adequados. 

A Lavadeira-mascarada parece se contorcer, "arranjando" suas penas. Imagem: Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG

Como as aves voam ?
Alçar voo, planar levemente no ar, em uma dança efetuada a grandes alturas, é, segurante, um sonho de muitos. Alguns fatores tornaram estes animais privilegiados.
1- Ossos pneumáticos e sacos aéreos.
Os ossos das aves possuem numerosas cavidades internas que os tornam mais leves. Essas cavidades comunicam-se em um complexo sistema respiratório, cujo ar pode ficar armazenado em "embalagens", denominadas sacos aéreos. Com este mecanismo o corpo de um pássaro torna-se menos denso, quase próximo de  flutuar durante o voo.

As cavidades dos ossos pneumáticos das aves. Imagem web


Os sacos aéreos recebem ar do sistema respiratório. Imagem web


2- Penas
Estas estruturas leves, compostas de inúmeros "fios" bem entrelaçados, presos a minúsculas armaduras córneas (parecidas com as placas protéicas formadoras dos chifres), irão compor as asas. Longas asas e batidas lentas para distâncias maiores, asas curtas e batidas muito rápidas para vôos menores e velozes.

3- Músculos peitorais
A estrutura muscular peitoral da maioria das aves é vigorosa e muito desenvolvida, podendo efetuar inúmeras contrações para um batimento contínuo das asas. Vejamos o impressionante exemplo do beija flor: este pequeno pássaro é capaz de bater as suas asas por cerca de 90 vezes em um segundo, para isso seu coração precisa "disparar" e  os batimentos cardíacos chegam a mais de 1200 vezes por minuto.

4- Metabolismo e fisiologia diferenciados.
Não há bexiga que acumule a urina nas aves. Pode se observar que as fezes saem sempre umedecidas, misturas ao líquido que compõe a urina. O processo digestório é rápido e o alimento não permanece por muito tempo no organismo, assim o corpo fica ainda mais leve para o voo.

O pequeno Beija-flor-tesoura pronto para  um vôo veloz. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Suiriri e o Bezerro

O Suiriri-cavaleiro (Machetornis richosa) possui um apelido sugestivo; muitos o chamam de Bem-te-vi-do-gado. Talvez seja pelo seu hábito de caminhar nas áreas de pastagens, bem próximo aos bovinos. Na verdade quase colados às suas patas. Eles andam de um lado para outro sem incomodar os bezerros ou vacas. O que eles desejam ali não é a vegetação ingerida pelos mamíferos. Se observarmos em uma oportunidade, vamos notar que alguns tipos de insetos voam, saindo da vegetação rasteira, quando o rebanho movimenta seus pesados membros. Aí os caminhantes vão entrar em ação. Seu objetivo, então, será capturar o maior número de insetos para o jantar.


O Suiriri-cavaleiro e o bezerro. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG



Mas o que realmente ocorre entre o Suiriri e o bezerro, como o da imagem? Durante o período evolutivo os ancestrais destes pássaros adaptaram-se ao fato de que poderiam contar com a ajuda de outros animais de espécies diferentes da sua, para a busca do alimento. Esta informação genética foi sendo repassada a outras gerações através da seleção natural. Os exemplares que retinham o aprendizado poderiam sobreviver, os outros eram eliminados pela lei da adequação ao ecossistema.


Uma imagem mais clara do Suiriri-cavaleiro. Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG




Enquanto disputamos o espaço nas ruas, nos locais de trabalho, nos supermercados, muitas vezes de forma brusca e até grosseira, esta ave e o mamífero o fazem de forma harmônica. Intuitivamente ambos respeitam os hábitos um do outro. Não há ataques, não há obsessão pelo espaço, não é um jogo; é vida plena. É um exemplo da natureza. O exemplo do Suiriri e do bezerro.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Canário-da-terra


Observando os pássaros nas proximidades do Velhas, notei uma espécie de coloração amarelada alimentando-se das sementes da vegetação rasteira. Junto do exemplar havia outro de cor cinza/parda. Constatei que se tratava de um casal de Canários-da-terra, conhecidos em Minas por muitos como Canário-chapinha. Fiquei surpreso, na época, pois eles andavam sumidos, devido à captura criminosa e ao extermínio de grandes populações por sementes impregnadas de agrotóxicos.



O casal de canários-da-terra (Sicalis flaveola). O macho de cor amarelada. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG




O macho possui cor amarelada e a fêmea a cor cinza. Por ocasião do acasalamento no período do verão, o macho exibirá um canto melodioso e poderá até executar uma dança rápida para atrair a sua parceira. A fêmea botará em média quatro ovos que irão eclodir em duas semanas. Com mais 20 dias os filhotes já poderão voar. Os seus ninhos são feitos por capim seco, cobertos, em forma de uma pequenina cesta. São utilizados até mesmo casas de joão-de-barro abandonadas, buracos em madeira oca, aberturas em telhas.




A fêmea (cinza) pousada num dos galhos da Bougainvillea. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG





Esta espécie é originária da América do Sul. Vive em locais de vegetação seca, na caatinga, no cerrado, nas margens dos cursos d'água. Seu alimento predileto são as sementes de gramíneas. Mas ocasionalmente podem servir-se de insetos.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Flores

Flores que pintam,
perfumam a lida,
em morte e vida.
Brancas, vermelhas  amarelas,
de todas as singelas
primaveras e aquarelas.




Flores que denunciam amores,
despertam louvores,
alicerçam fervores,
favores.
Clamores.
Removem pavores,
dispersam rancores,
Odores.
Aliviam dores.
Cores.





Imagem: Cláudio J Gontijo/Sete Lagoas-MG



terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Coruja e o João-de-Barro


Há algum tempo ouvi sons estranhos que vinham dos galhos de uma árvore, um velho Tamboril. Piados repetitivos, numa sequência quase hipnótica. Já era noite alta, escura, de lua crescente. Fui até a árvore, a poucos metros da varanda e foquei a lanterna numa casa de joão-de-barro. Tive uma surpresa. Na pequena porta de entrada uma outra ave se mostrava. Não era quem deveria estar ali.

Disparei a máquina, buscando o foco no clarão efetuado pela lanterna. Ainda surpreso, lembrei-me de que o João-de-barro não costuma reutilizar seu ninho. Sua opção é pela tolerância e partilha. Enquanto seus ninhos resistem às intempéries, vão sendo utilizados por outras espécies de pássaros.


A coruja-do-campo e a casa do joão-de-barro. Imagem: Cláudio J Gontijo/Lassance-MG

Mas o que fazia ali uma Coruja-do-Campo. Ave de rapina, que costuma arquitetar seu ninho em buracos no chão. Por isto são também chamadas de Corujas-buraqueiras. A figura estava lá, estática, à entrada do ninho. Parecia uma rolha, obstruindo a casinha de barro.

A ave predadora teria invadido o ninho de outra espécie, buscando pequenos ovos e filhotes? Ou estaria naquele local compondo a reprodução da sua própria espécie ?

Na tarde de hoje, dentro das muitas reflexões, recordei-me do João-de-barro e da Coruja. Lembrei-me novamente da partilha e senti saudade. Vontade de rever muitos e muitos amigos distantes. Personagens de encontros e desencontros, como aqueles pássaros. Espécies difusas, de hábitos alimentares contrários, mas de histórias afins. Propiciadas pela necessidade de sobrevivência, na grande e eterna comunhão ecossistémica.
Concluí que a proximidade e a convivência são pilares que vão solidificando os valores de toda uma existência. Uma vida em comum que edifica, que apara as diferenças e promove o crescimento. Uma jornada que se torna mais rica a cada di.a, para afastar o vazio e as arestas, para promover a vida plena e verdadeira. A exemplo da Coruja e do João-de-barro

domingo, 11 de agosto de 2013

Primavera

Quando não sabemos para onde ir, qualquer caminho nos parece familiar. Então a verdade é bússola.

Com simplicidade e espontaneidade vamos percorrendo a jornada, porque esta é inadiável. 

Na natureza tudo germina a seu tempo, mas não é possível extrapolar seus limites. Assim as brácteas só vão proteger as minúsculas flores da Primavera (Bougainvillea) até um determinado período.



As brácteas e flores da Bougainvillea sp. Imagem: Cláudio José Gontijo/Lassance-MG

Fé e Vida

Quase sempre tentamos retornar ao que imaginamos ser acolhedor. Temos profunda necessidade de compreensão  e calor.

Um dia já choramos desejando voltar ao útero, sem querer deixar os fluídos que nos protegeram. E depois da ruptura, sonhamos com a mesma proteção que já esteve ao nosso dispor.

Seguimos e teimamos com amizades desgastadas, gestos repetitivos, doentios, e planejamos nos manter confortáveis como em tempos que já se foram.

E quando nos damos conta de que a vida vai se alterando e as margens vão ficando submersas, resta-nos o que armazenamos na Alma, referências eternas que juntamos, verdades imutáveis. Resta a nossa própria companhia e a certeza de que somente a Fé nos manterá vivos.


A Serra do Cabral. Imagem: Cláudio J. Gontijo/Lassance-MG


Hoje, já não possuo tantas alternativas. Elas foram sendo naturalmente afuniladas com o passar dos anos. Mas as boas escolhas de outrora me conduziram para onde eu gostaria de estar. E mesmo em clima, às vezes árido, tenho o privilégio de estar junto à natureza exuberante. Aqui vou executando a jornada.

De pé, às margens do Rio, ou caminhando pelo sertão de Jatobás e Pequizeiros, ouvindo o Curiango em noites de Deus e Paz, estou vivo, porque não perdi a Fé.


O crepúsculo, de onde ouço o curiango. Imagem: Cláudio J. Gontijo/Lassance-MG